Crítica


2

Leitores


12 votos 8

Onde Assistir

Sinopse

Os EUA foram tomados pelo crime e as prisões do país estão com lotação máxima. Para tentar conter ocorrências, a cada ano o governo estabelece um único dia em que todo e qualquer crime é permitido. James Sandin, habitante de uma comunidade murada que tenta se proteger da onda de crimes, precisa lidar com um invasor que entra no isolamento, tendo que proteger sua família sem cair na tentação da violência legalizada.

Crítica

Uma premissa bastante questionável sobre o controle da violência social nos Estados Unidos gerou um dos filmes mais equivocados do ano na indústria do cinema de Hollywood. Uma Noite de Crime relata a experiência traumática vivida por uma família rica no ano de 2022, época em que, por sanção do governo norte-americano, todos os crimes são permitidos anualmente por 12 horas seguidas. No filme, por decisão da liga administrativa radical New Founding Fathers (algo como “Novos Pais Fundadores”), fica estabelecido que qualquer crime cometido por qualquer pessoa durante a noite sem lei estará isento de punição. O motivo da determinação federal que instaura The Annual Purge (“A Purgação Anual”) não é explicado de forma consistente pelo roteiro, muito menos seu impacto social imediato: a queda drástica da violência fora do período purgatório.

O único aspecto que se torna claro, por ser citado constantemente no longa de James DeMonaco, é que na Purgação todas as pessoas estão livres para liberar a agressividade latente, contida durante os outros 364 dias do ano. Ou seja, o filme defende, sem o menor fundamento, que um dos países mais violentos do mundo tornou-se um dos mais pacíficos simplesmente por institucionalizar e compartimentar a intolerância, a barbárie, o roubo e o assassinato em uma noite específica. É como um Natal às avessas. Nesse contexto bizarro, James Sandin (Ethan Hawke) faz fortuna vendendo um sistema de segurança residencial altamente tecnológico – e igualmente falho – para os habitantes da cidade onde mora. Sua mansão desperta a inveja dos vizinhos, que a disfarçam da forma que podem.

No Dia da Purgação, um homem negro sem-teto foge de um grupo de adolescentes brancos sádicos pelas ruas do bairro. O filho de James desarma o sistema de defesa da casa e o deixa entrar. A partir de então, a família terá que lidar não apenas com o intruso, mas também com o grupo de arruaceiros classe A que ameaça invadir a mansão para se vingar de todos.

Uma Noite de Crime aposta alto na ultraviolência e no subgênero de suspense “inimigo-dentro-de-casa” visto em filmes como O Quarto do Pânico (2002), de David Fincher, Os Estranhos (2008), de Bryan Bertino, e Você é o Próximo (2013), de Adam Wingard, e também se aproxima desajeitadamente do futuro próximo e distópico criado por J.G. Ballard em livros como Cocaine Nights, Super-Cannes, O Reino do Amanhã, Terroristas do Milênio ou Running Wild. No entanto, qualquer nível de comparação entre eles seria um exercício de perda de tempo.

Equivocado desde a sua concepção, explícito da forma mais aviltante e vazio do modo mais vergonhoso, o longa acaba celebrando a violência que pretendia condenar, o que fica nítido nas várias cenas de violência gratuita e no circo midiático armado pela cobertura jornalística na manhã seguinte à Purgação. Parte da imprensa gringa viu no filme uma crítica ao Tea Party, o núcleo de extrema direita republicano, e à National Rifle Association, que faz o lobby das armas no Congresso norte-americano. Se esta era a real intenção de DeMonaco seu tiro saiu pela culatra.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
avatar

Últimos artigos deDanilo Fantinel (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *