Crítica


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Sinopse

Raimund Gregorius, um professor suíço, salva uma mulher portuguesa que se preparava para pular de uma ponte em Berna, na Suíça. Repentinamente, a mulher desaparece, deixando seu casaco para trás. No bolso de sua roupa esquecida, ele encontra um livro de um autor português, Amadeu do Prado, e um bilhete de trem para Lisboa com data desse mesmo dia. Ele resolve, então, sair de sua rotina e embarca rumo a um destino desconhecido.

Crítica

Pode alguém abandonar seu emprego e, basicamente, deixar sua vida para trás por conta de uma curiosidade imensa? Por um senso de reconhecimento após ler uma obra que lhe cala profundamente? Por uma tentativa de buscar algo dentro de si que parecia nunca ter encontrado? Se depender do personagem de Jeremy Irons em Trem Noturno para Lisboa, a resposta é sim. Baseado na obra de mesmo nome do escritor suíço Pascal Mercier, o longa-metragem dirigido pelo dinamarquês Bille August tem momentos interessantes, com um elenco de peso, mas ritmo inconstante.

Na trama, o professor Raimund Gregorius (Irons) é um sujeito solitário – do tipo que joga xadrez consigo mesmo para passar o tempo. Um dia, quando ia para o trabalho, se depara com uma jovem mulher prestes a pular de uma ponte e, no impulso, consegue salvá-la. Depois deste encontro fortuito, a moça foge deixando para trás um casaco vermelho e um livro em seu bolso: Um Ourives das Palavras, do escritor português Amadeu Inácio de Almeida Prado (Jack Huston). Gregorius começa a ler a obra e cada nova sentença, cada nova ideia do autor parecem ser endereçadas diretamente a ele. Dentro deste livro, uma passagem para Lisboa em um trem à noite faz com que o professor aceite o desafio imposto pelo acaso e embarque na viagem. Sem bagagens, sem preparação. Ao chegar a Portugal, procura pelo autor do livro, mas encontra apenas a irmã do escritor, Adriana (Charlotte Rampling), mulher que vive um luto eterno pela morte de Amadeu, que era médico. Sabendo do destino do doutor, Raimund procura por pessoas que possam ter conhecido o autor no passado, descobrindo a luta pela qual Amadeu e seus companheiros passaram contra a ditadura de António de Oliveira Salazar.

A narrativa de Trem Noturno para Lisboa passeia pelo passado e presente. A cada novo encontro de Raimund com algum conhecido de Amadeu, uma peça do quebra-cabeça é descoberta e mergulhamos, junto do professor, ao momento em que Portugal vivia um período conturbado. Com estas idas e vindas, o ritmo do filme fica prejudicado. E não pela lentidão. Em alguns momentos, Bille August parece correr com a história, na ânsia de nos mostrar a próxima reviravolta, o próximo personagem. Não há tempo para pensarmos sobre o que vimos. Em uma história que parece pedir por esta reflexão, ela simplesmente não existe. Algumas barreiras e problemas que surgem pelo caminho de Raimund são resolvidas de forma muito fácil – o maior exemplo disso sendo o encontro entre o professor e Jorge (Bruno Ganz), amigo próximo de Amadeu. Após rechaçar qualquer conversa de forma intempestiva, ele muda de ideia e de comportamento rapidamente, já no próximo encontro. O mesmo pode ser dito de Adriana. Muito provável que no livro, o comportamento dos personagens não seja tão volúvel.

Ainda que corra com a história, Bille August tem crédito por ter conseguido um elenco invejável. Além de Jeremy Irons, que encabeça o cast, temos os veteranos Charlotte Rampling, Tom Courteney, Bruno Ganz, Burghart Klaussner, Christopher Lee misturados a um elenco de jovens talentos como Mélanie Laurent, Jack Huston e August Diehl. Cada um tem seu tempo para mostrar a que veio, uns mais, outros menos. O destaque fica para Diehl/Ganz que dividem o papel de Jorge em momentos distintos da trama. Isso porque o personagem é um dos mais interessantes do filme, um sujeito que ama seu amigo, tem um senso de responsabilidade para a revolução ímpar, mas que, por ciúmes, acaba colocando quase tudo a perder quando percebe que Amadeu roubou a bela Estefânia (Laurent) de seus braços.

Trem Noturno para Lisboa consegue juntar todas as peças do quebra-cabeça de forma convincente, com Raimund aprendendo algo sobre si no processo. Não fosse tão apressado em mostrar a que veio, talvez o filme e sua história pudessem fazer o mesmo com o espectador.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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Grade crítica

CríticoNota
Rodrigo de Oliveira
7
Bianca Zasso
8
MÉDIA
7.5

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