Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

No sul de Israel, duas mulheres enfrentam as normas sociais num vilarejo de beduínos. Jalila, a mãe, é encarregada de organizar o casamento do marido com uma segunda esposa, apesar de ser contrária à união. Já a filha Layla tem um namoro secreto com um rapaz que jamais seria aprovado para o casamento pelo pai religioso. Ambas precisam tomar uma decisão importante para conquistarem a liberdade.

Crítica

Tempestade de Areia tem início com uma mulher ao volante falando de suas notas escolares. E termina com a imagem da mesma logo após se casar, vista por entre grades que passaram a simbolizar seu destino. Filha mais velha em uma casa de beduínos no sul de Israel, Layla (Lamis Ammar) vive o clássico conflito de estar envolvida em um romance proibido. Isso só agrava a delicada situação de sua família. Pois agora seu pai encontrou uma segunda esposa.

A trama é quase toda ambientada no terreno onde se ergue a humilde casa em que vivem as protagonistas. Isso nos prende às limitações físicas e figuradas de Layla e sua mãe, Jalila (Ruba Blal). O que é ainda mais angustiante quando percebemos que a cineasta Elite Zexer raramente recua sua câmera para um plano mais abrangente dos campos abertos com que elas convivem. Sufocando o espectador apesar de (e, inclusive por) sugerir a amplitude do lugar e de suas vizinhanças.

Desse ponto de vista, a performance central para o funcionamento do projeto é a de Blal. Ela carrega no olhar toda a exaustão que a submissão que lhe é (auto)imposta pelos costumes que sua cultura lhe garantiu acumular. Amarga, porém, não menos zelosa por isso, Jalila demonstra um verdadeiro (ainda que saturado) carinho por todos de sua família. Ela carrega raiva ao vir consertar um acidente da filha na cozinha. Mas também traz consigo preocupação pela mesma ter se machucado. Repreende uma das mais novas por usar o pai como desculpa para fazer o que quer. Prontamente também se arrepende por ter gritado com a garota. Provavelmente constatando que na infância residem os poucos momentos de liberdade que ela terá na vida. E isso é mérito da sutileza com que a atriz sugere intensidade.

Não distante disso, Hitham Omari compõe o patriarca Suliman de forma surpreendentemente dócil. O personagem poderia facilmente converter-se em um vilão unidimensional. Arraigado à valores que as lentes ocidentais já conseguem enxergar como algo antiquado. Suliman é um homem que não só aprecia como também deseja o amor de sua família. O vemos tomar decisões que poderiam soar vilanescas. Como mandar a primeira esposa tirar as centenas de roupas recém-estendidas no varal para que ele possa estacionar a caminhonete. Sua postura é tão ponderada que é possível entender que ele sente um pesar por ter de fazer aquilo. Embora acredite que seja a atitude correta.

Torna-se um sentimento comum durante o longa-metragem. Essa contradição entre aquilo que esperamos dos personagens e as ações que estes realmente tomam. É flagrante, inclusive, que exista essa expectativa e que Zexer brinque com ela, pois está, na verdade, a apontar as nossas diferenças culturais. Não que mulheres se submetendo ao comando dos homens possa ser aceitável só porque pertence a uma gama de costumes diferentes dos nossos, e se partíssemos desse argumento, poderíamos reverter quase todos os avanços dos direitos humanos nas últimas décadas. Mas ao nos confrontar com as diferentes lógicas assumidas por seus personagens, Zexer consegue fazer com que repensemos a nossa própria cultura e quão distantes realmente estamos disso tudo.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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Grade crítica

CríticoNota
Yuri Correa
7
Bruno Carmelo
8
MÉDIA
7.5

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