Crítica
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Sinopse
Diogo acha que pode voltar aos tempos áureos numa festa de comemoração de 20 anos de sua formatura. Uma série de acidentes e incidentes faz com que o lado "adolescente tardio" dele aflore ainda mais. Porém, será preciso crescer.
Crítica
Pedro Amorim é um cara legal. Começou a carreira fazendo curtas-metragens curiosos e logo enveredou pra a televisão, espaço que explorou em séries como Mothern (2007-2008). Ali, no entanto, ficou amigo de comediantes como o Rafinha Bastos – a quem admiro, ainda que seja inegavelmente dono de um senso de humor bastante duvidoso – e isso parece estar norteando seu trabalho desde então. Se em sua estreia cinematográfica, no divertido Mato Sem Cachorro (2013), ele conseguiu fazer humor sem apelar para fórmulas desgastadas e óbvias, o mesmo efeito não se repete em Superpai, longa que provoca mais bocejos do que risos. E não se pode dizer que não foi por falta de esforço. Afinal, os elementos parecem estar nos devidos lugares. Apenas não há química entre eles, fazendo desta uma experiência bastante frustrante.
A inspiração mais evidente para a trama de Superpai é uma comédia de humor negro um tanto obscura na carreira de Martin Scorsese, Depois de Horas (1985). Se neste filme lançado há exatamente trinta anos a graça vinha da inventividade do roteiro e das boas atuações do elenco, o que vemos nessa versão “pastelão brasileiro” é o contrário. Danton Mello ocupa o lugar do homem que precisa enfrentar uma noite desesperadora para colocar todas as coisas da sua vida em ordem. Resumo da história: a esposa foi com a mãe dela para o hospital, e ele precisou ficar cuidando do filho. Como já tinha planos com amigos para ir a um reencontro da turma do colégio, decide deixar o menino em uma creche noturna. Só que ao buscá-lo, horas depois, acaba trocando de criança (pega uma outra que usava a mesma fantasia) e isso acaba virando seu pesadelo. Afinal, com quem está seu filho? E como fazer para reencontrá-lo antes que sua mulher descubra?
Superpai nasceu como um roteiro dos estreantes Benjamin Cosgrove e Corey Palmer, dois novatos que até hoje nunca emplacaram nada em Hollywood. A ideia era contar com Jack Black como protagonista, mas com a recusa deste o projeto acabou engavetado. Por obra do destino, veio parar na sucursal brasileira do estúdio e chamando a atenção de Amorim, que decidiu fazer deste seu segundo longa. Só que ao adaptar o texto para o Brasil, ele convidou não apenas Rafinha, mas também Ricardo Tiezzi (Qualquer Gato Vira-Lata, 2011) e Camila Raffanti (da série O Negócio, 2013). O resultado, como se poderia prever pelos nomes envolvidos, não é nada positivo. Aliás, muito pelo contrário. Temos, aqui, um dos filmes brasileiros mais infelizes da atual temporada.
Pra começar, o protagonista não poderia ter uma moral mais dúbia. Afinal, trata-se de um vagabundo sustentado pela esposa, que trata o próprio filho como um estranho (não conhece suas alergias, por exemplo) e não hesita em abandoná-lo não para reencontrar os amigos (o que já seria duvidoso), mas, sim, para trair a mulher com uma antiga paixonite dos tempos de colégio (o que é ainda pior). Ou seja, qualquer forma de identificação com ele se dá por vias tortas. Depois, tudo que começa a se suceder durante a noite são intervenções mal arranjadas – o menino pego por engano é oriental, ninguém entende o que a criança fala, e do desconhecido com quem se comunicam em um banheiro público até o tio que o abandonou para doação os tipos só ficam piores. Pra terminar, há os amigos, que nada mais são do que estereótipos rasos e superficiais: o malandro tarado e ultrapassado (Antonio Tabet, do Porta dos Fundos), a ex-puta que aprontou todas (Dani Calabresa, do CQC) e o negro obeso que, só por ser educado e bem de vida, calha também de ser gay (Thogun Teixeira, o único bom ator do elenco e que definitivamente não deveria ter nada melhor para fazer para ter aceitado se sujeitar a uma bobagem como essa).
Danton Mello é um artista que recursos limitados, que já teve seu momento de sucesso (quando criança, em novelas da Rede Globo), mas desde então sempre esteve à sombra do irmão mais famoso e competente (Selton Mello, pra quem não sabe). No entanto, ele tem passado por um período de redescoberta com o boom das comédias escrachadas que tem sido feitas em série no Brasil. E depois de se envolver no bom Vai Que Dá Certo (2013) e no razoável O Concurso (2013), ele tenta de novo investir no gênero, porém sem o mesmo sucesso anterior. Superpai faz uso de um tipo de humor apelativo e escatológico, grosseiro e sem meios termos. As motivações dos personagens são questionáveis, suas personalidades são pouco amigáveis e os diálogos clichês contribuem para manter a audiência afastada dos dramas por eles vividos. Descartável até seria uma avaliação positiva num caso como esse, mas ofensivo e irritante são conclusões mais prováveis.
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