Crítica
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Sinopse
Crítica
No final dos anos 1940, Ingrid Bergman, no auge da fama – recém havia ganho seu primeiro Oscar e estrelado sucessos como Casablanca (1942) e Joana d’Arc (1948) – decidiu escrever uma carta ao cineasta italiano Roberto Rossellini, revelando-se grande fã do trabalho dele e pedindo uma oportunidade para ser convidada a atuar sob sua direção no futuro. Bom, não importa quem e nem de onde você é, muito menos a época em que se encontra: quando uma mensagem como essa, vinda de uma das maiores atrizes de Hollywood, chega as suas mãos, é melhor parar tudo que está fazendo e atendê-la de imediato. E foi exatamente o que Rossellini fez: demitiu Anna Magnani, a quem havia dirigido antes no clássico Roma: Cidade Aberta (1945), e chamou Bergman para ser a protagonista do seu novo projeto. E essa foi a primeira das muitas polêmicas que rodearam os bastidores de Stromboli antes, durante e depois da sua realização. O mais impressionante, no entanto, é perceber que, mesmo navegando por águas tão turbulentas, a força e a originalidade do filme segue intacta tantas décadas após o seu lançamento.
Mestre do neorrealismo italiano, Rossellini colocou a diva hollywoodiana no meio de uma minúscula ilha de pescadores próxima à Sicília, todos, obviamente, não atores – ou intérpretes estreantes, dependendo do gosto do freguês. É claro que ela odiou a experiência, ao menos num primeiro momento. Pois, basta assistir ao resultado, para ver estampada no rosto dela a exata expressão buscada pelo diretor neste conto de entrega e danação. Fica tão claro, a cada fotograma, que Ingrid Bergman é a única artista profissional do conjunto, que sua escolha para o papel não poderia ser mais apropriada. Karin, sua personagem, é uma rebelde, aquela que não se encaixa, que está a todo instante se esforçando para deixar em evidência o quão diferente ela é de todos ao seu redor. Metade deste esforço é alcançado pelas escolhas do diretor. A outra parte, é claro, recai sobre o inegável talento da atriz.
Karin é uma imigrante lituana que, após o fim da Segunda Guerra Mundial, se encontra em um campo de refugiados, à espera do passaporte que permitirá sua migração à Argentina. Como esse pedido não lhe é atendido, sua alternativa é aceitar o pedido de casamento de um jovem soldado apaixonado por ela. Oficialmente casada, se torna também italiana, e com isso consegue permissão para sair dali e seguir com sua vida. Acompanhando o marido, vai parar em uma ilha no meio do Mediterrâneo, onde há uma vila onde nada acontece, localizada no pé do vulcão Stromboli. A noiva não disfarça sua insatisfação com o lugar para onde é levada. “Sou uma mulher da civilização”, grita a plenos pulmões. O companheiro, sem entendê-la, a deixa sozinha, seguindo com sua rotina. Enquanto isso, ela tenta se ocupar, seja arrumando a casa, caçando mexilhões com as crianças na beira da praia, ajustando velhos vestidos e, principalmente, sonhando com uma vida melhor.
Há interessantes pontos de virada em Stromboli. Sentindo-se angustiada e perdida, Karin se depara com um garoto de não mais do que cinco anos, sozinho, sentado numa escada. Ela o confronta, pedindo sua ajuda, que lhe diga algo. Tudo que a criança consegue dizer é “não”, e isso é o que ela recebe de todos que deveriam aceitá-la, mas que preferem tratá-la como um animal exótico, do qual nem é bom se aproximar e que cada ato e passível de más interpretações. Se visita uma costureira que está com o marido enfermo no mesmo quarto em que os consertos são feitos, os vizinhos já a chamam de “prostituta”. Se tropeça e é ajudada por um conhecido que vai ao seu resgate, o marido é recebido por cochichos de “corno” no caminho para casa. A angústia que vai se abatendo sobre o casal prossegue até esgotá-los. Mas, antes de não terem mais para onde correr ou como se esconderem, será a natureza que entrará em erupção. Ponto final da relação e, talvez, da própria alma atormentada que não sabe mais o que fazer consigo mesma.
Em uma determinada sequência, Karin decide pedir ajuda ao padre. Vendo nele tanto uma tábua de salvação como também uma porta que se fecha, decide usar sua única arma: a beleza. A tentativa de seduzi-lo é tão perturbadora quanto patética. Ela sabe que não é esse o caminho, mas, ao mesmo tempo, como evitá-lo? Fascinantes sequências documentais, usadas para retratar a vida sofrida dos pescadores locais, servem também como analogia ao drama da protagonista: cercada por todos, de que lhe adianta seguir se debatendo? Não seria melhor, simplesmente, se entregar? Stromboli, no original, possui um subtítulo: Terra di Dio, ou, em tradução literal, Terra de Deus. Cabe a ele, que parece ter abandonado aqueles que se encontram neste pequeno ponto de terra em meio a uma imensidão azul, seu último pedido de socorro. Se será ouvida ou não, essa é uma resposta que depende mais dos espectadores do que daqueles responsáveis por essa irrepreensível aula de cinema e verdade.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 10 |
Bianca Zasso | 10 |
Jorge Ghiorzi | 9 |
Leonardo Ribeiro | 10 |
MÉDIA | 9.8 |
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