Crítica


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Sinopse

Os Parker são conhecidos na cidade como discretos e reclusos. Se trata de uma família conduzida com severidade por seu patriarca, Frank. A morte da mãe faz com que esse clã precise se reconfigurar para continuara existindo.

Crítica

A infinidade de remakes realizados nos Estados Unidos demonstra não apenas uma tendência deste cinema em apresentar exitosas produções de outros países reformuladas para sua audiência, assim como uma grave deficiência que assola este e outros públicos: a dificuldade da população em acompanhar filmes legendados. Assim surgiu este Somos o Que Somos, refilmagem do terror mexicano homônimo de 2010, que para a felicidade dos norte-americanos não possui quaisquer palavras, referências ou até mesmo intérpretes latinos.

Na lúgubre paisagem de uma pequena cidade no interior de Pensilvânia, Frank Parker chama a atenção por seu estilo antiquado, seja na maneira de se vestir, ouvir músicas em discos ou consertar relógios analógicos. Após a estranha morte de sua esposa, suas filhas Iris e Rose são incumbidas de manter as tradições familiares de seus antepassados, seguidas a partir de um estranho diário que as aterroriza, mas que elas insistem em ler mesmo que tirem o sono do irmão mais novo, Rory. Outra tradição que o Sr. Parker faz questão de manter na família é mantida em suspense até a metade de Somos o Que Somos, mas quem conhece o ditado original que deu origem ao título da produção ou percebeu a total falta de sutileza na arte de seu cartaz resolverá o “enigma” facilmente. Este é o principal problema na estrutura narrativa e desenvolvimento da atmosfera que pontua todo filme: eles simplesmente não funcionam para os espectadores mais atentos com conhecimento prévio sobre sua temática central.

Conhecido por outros trabalhos dignos do primetime do canal Syfy, Jim Mickle conduz a adaptação de Nick Damici sem recorrer aos artifícios mais recorrentes ao gênero, como sustos imprevisíveis e trilha sonora ostensiva – o que atualmente é cada vez mais raro. Apesar de seus esforços, a pobreza do roteiro com múltiplos núcleos dificulta suas ambições; a cada vez que uma sequência parece verdadeiramente instigante ela é interrompida por outro pequeno enredo descartável, como a investigação de um detetive aposentado ou a trama romântica entre um jovem policial e a filha mais velha de Parker. Outro ponto condenável de Somos o Que Somos são os flashbacks construídos a partir da narração em off de Iris enquanto lê o livro supracitado. Para tentar atribuir algum sentido aos hábitos da família Parker para o chamado Dia dos Cordeiros, o filme é constantemente interrompido por uma historieta sem sentido ambientada nos anos 1870. Ao considerar que o original mexicano levantava questões raciais e relativas à pobreza e diferenças de classes para justificar seu tema principal, este remake norte-americano parece ainda mais perdido na tradução.

Somos o Que Somos possui boas atuações, em especial a de Bill Sage, como o perturbado Frank Parker. Além disso, reapresenta uma envelhecida Kelly McGillis e merece algum crédito por seu ato final – ainda que recorra ao condenável encerramento com pontas soltas para eventuais sequências. Injustificadamente badalado no Festival de Sundance, onde estreou, o filme infelizmente permanece apenas como referência como um entre tantos outros remakes desnecessários.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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