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Sinopse

Depois da Segunda Guerra Mundial, um soldado norte-americano decide tentar a sorte como pintor na capital da França. Ele é descoberto por uma ricaça interessada em bem mais do que seus quadros, mas se apaixona por outra.

Crítica

Sinfonia de Paris talvez seja um dos vencedores do Oscar mais supervalorizados de todos os tempos. Recebeu 8 indicações, ganhando em 6: Filme, Roteiro, Trilha Sonora, Figurino, Direção de Arte e Fotografia. Para tanto, superou obras muito mais significativas, como Um Lugar ao Sol (estrelado por Elizabeth Taylor e Montgomery Clift e apontado, na época, por Charles Chaplin, como “o melhor filme jamais feito”), Uma Rua Chamada Pecado (drama de Tennessee Williams com Marlon Brando e Vivien Leigh) e Quo Vadis (épico com Deborah Kerr e Peter Ustinov). É importante observar que esse resultado positivo foi obtido somente junto à Academia: no Globo de Ouro ganhou como Melhor Filme – Musical ou Comédia, mas perdeu nas demais categorias em que concorreu; no National Board of Review ficou somente entre os 10 melhores do ano, sem nenhum destaque principal; e no Festival de Cannes chegou a ser selecionado, mas voltou pra casa de mãos abanando. Precisamos combinar: uma produção americana que se dedica quase que inteiramente a fazer elogios à capital francesa e volta de um festival na França sem nenhum reconhecimento, bom sinal não é. E, de fato, mais uma vez os franceses estavam certos.

Mas se voltarmos ao início dos anos 1950, de fato Sinfonia em Paris tinha todos os elementos para ser um grande sucesso – o que se comprovou logo após sua aguardada estreia. Na direção estava Vincente Minelli (responsável por diversos clássicos do gênero, como Gigi, que lhe valeu o Oscar em 1958), e à frente do elenco estava ninguém menos do que Gene Kelly, que vinha de obras populares como Marujos do Amor (1945) e Um Dia em Nova York (1949), e que estouraria de fato no ano seguinte com o memorável Cantando na Chuva (1952). Como base, as letras e as músicas de Alan Jay Lerner, o mesmo de outros musicais inesquecíveis, como Núpcias Reais (1951) e Minha Bela Dama (1964), além do já citado Gigi. Essa conjunção, que ainda trazia coadjuvantes de peso como Oscar Levant, Nina Foch e a estreante Leslie Caron (que no futuro receberia duas indicações ao Oscar), deu tão certo que fez de uma obra leve e até um pouco frívola uma favorita do público e da crítica americana, produto perfeito para o escapismo necessário aos anos pós-guerra, que tinha como função principal mostrar ao mundo que a Europa, mesmo devastada, ainda era uma terra de sonhos e conquistas.

Como não poderia deixar de ser, Gene Kelly é o próprio americano em Paris do título original. Pintor fracassado, vive de pequenos serviços e à mercê da sorte quando consegue vender um dos seus trabalhos. A situação parece mudar quando uma rica colecionadora (Foch) identifica nele algum talento e resolve apostar no potencial daquele estranho que conheceu nas ruas da capital francesa. Mas ela quer mais, e a atração que surge entre os dois logo é ofuscada pela paixão que ele passa a sentir por Lise (Caron), uma jovem dançarina envolvida com um cantor de cabaré. Tanto ele quanto ela estariam melhores se continuassem com seus pares originais, mas nem sempre a voz do coração está de acordo com o que a razão manda. E entre canções marcantes, números musicais bastante elaborados – a apresentação final até hoje é uma referência no gênero com seus quase 20 minutos ininterruptos – e a simpatia do casal protagonista, somos levados por uma verdadeira sinfonia pelas ruas de uma Paris mais iluminada do que nunca.

Mais uma peça publicitária do que uma obra cinematográfica de relevância, Sinfonia de Paris é um daqueles clássicos que não souberam envelhecer, e hoje só é possível assisti-lo movido pela curiosidade do que por um genuíno interesse. Qualquer um dos envolvidos possuem em seus currículos trabalhos de maior repercussão, e mais de meio século depois sua historieta de amores divididos é mais comum do que qualquer romance água com açúcar da Sessão da Tarde. Bonito, colorido e animado, é quase como uma peça de museu: possui indiscutivelmente valor, mas mais como referência à uma época passada e como registro do seu tempo do que enquanto cinema com letra maiúscula.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Chico Fireman
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MÉDIA
8

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