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Sinopse

Detroit virou um campo de batalha por conta da atuação da OCP. Isso levou à construção de uma nova metrópole, Delta City. Porém, RoboCop ressurge para estragar os planos do conglomerado.

Crítica

Se existe uma maldição em trilogias que faz com que o terceiro filme sempre seja mais fraco que os demais, esta praga recaiu diversas vezes em RoboCop 3. Exemplo de como exterminar uma franquia, o longa-metragem dirigido por Fred Dekker não carrega nenhuma das qualidades que seus antecessores apresentavam. Ou melhor, carrega apenas uma: a trilha sonora de Basil Poledouris, que retorna com o tema do herói depois de ter ficado ausente em RoboCop 2 (1990). De resto, o “policial do futuro” pouco se assemelha ao que havíamos visto anteriormente, com uma trama que dispensa a violência e o humor negro que tanto chamavam a atenção no original, dirigido por Paul Verhoeven, transformando o robô em um arremedo de herói.

O roteiro foi escrito por Frank Miller – ou quase. Depois de ter uma experiência horrível ao observar praticamente todo o seu script jogado no ralo em RoboCop 2, o criador da clássica história em quadrinhos O Cavaleiro das Trevas não aprendeu a lição e decidiu assinar contrato para mais uma empreitada em Hollywood. Novamente, o estúdio vetou boa parte das ideias do roteirista, utilizando outros conceitos trazidos pelo diretor Fred Dekker, que havia assinado o divertido clássico da Sessão da Tarde Deu a Louca nos Monstros (1987).

Na trama, o caos está totalmente instalado quando a OCP, agora controlada por japoneses, decide colocar em prática o plano da construção da nova Delta City, sua cidade modelo. Para que isso aconteça, os habitantes mais pobres do local acabam sendo despejados, criando um grupo de rebeldes que pretende brigar por seu direito de viver. RoboCop acaba ajudando os manifestantes enquanto precisa se cuidar com uma ameaça que surge na forma de um samurai robótico enviado especialmente para dar cabo do policial do futuro.

São muitos os equívocos desta continuação. O primeiro, e o que talvez chame mais a atenção dos fãs de RoboCop, é a ausência da violência escancarada. Se em 1987, Paul Verhoeven estourou o corpo de Alex Murphy e mostrava banhos de ácido como uma forma absolutamente chocante de pintar aqueles tempos de extrema brutalidade; e em 1990, Irvin Kershner continuou de alguma forma o banho de sangue, mas com algumas reservas; Fred Dekker minimiza tanto quanto pode o que vemos em tela. O estúdio procurava por uma censura baixa para o filme, tirando boa parte da essência da trajetória do personagem. A trama chega ao cúmulo de transformar o ameaçador ED-209 em uma máquina facilmente manipulável por uma criança. Além disso, o humor negro e ácido dos filmes anteriores é substituído por tentativas baratas de humor – por vezes involuntário, como o risível samurai robô que aparece de vez em quando na história.

Se não bastasse isso, a produção do filme é visivelmente barata, com escopo de programa de TV. Em 1994, foi produzido um seriado para o personagem e o longa-metragem mais parece um piloto para esta série do que o desfecho da trilogia iniciada por Paul Verhoeven. Nem Peter Weller, ator que viveu Alex Murphy/RoboCop nas produções de 87 e 90 quis voltar para esta continuação. Em seu lugar, foi chamado Robert John Burke, uma escolha que se não atrapalha, também não mantém a continuidade da franquia intacta. Pode soar estranho, visto que o herói passa quase todo o filme com um capacete escondendo boa parte do rosto. Mas a parte que podemos ver é tão diferente de Weller que não deixa de causar distração. Fora o fato de que o capacete, diversas vezes, aparenta não encaixar direito na cabeça do novo ator, balançando de forma como nunca havia acontecido com o Murphy original. Tudo isso deixa mais clara a pobreza do desenho de produção, que não foi capaz de consertar um detalhe importante como este.

Com decisões tenebrosas de plot – o desfecho de Lewis, parceira do herói vivida por Nancy Allen, é terrivelmente anticlimático, e o gadget voador de RoboCop é ridículo – o terceiro longa da franquia é uma sucessão de erros que nos faz perguntar quem deu Ok para tudo isso. A bagunça foi tão grande que nem o seriado de 1994, nem a minissérie de 2000, colocavam esta trama como algo do cânone do personagem, ignorando-o completamente. E é exatamente este lugar que RoboCop 3 merece: o total e perfeito esquecimento.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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