Crítica


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Sinopse

Uma viagem pelos subúrbios de Olinda e Recife seguindo o itinerário de uma tradicional linha de ônibus.

Crítica

Nascido primeiro como um programa de televisão exibido pela TV Brasil no formato padrão de 52 minutos, Rio Doce-CDU – o único representante pernambucano na mostra competitiva de longas-metragens do XVII Cine PE – chega agora aos cinemas numa versão estendida, com mais 20 minutos. Essa alteração, no entanto, pouco afetou o trabalho, pois de novo nada foi acrescido ao que o original já se propunha. Na verdade, temos agora uma obra mais poética do que meramente documental, com respiros de imagens, uma trilha sonora presente e poucas novidades, resultando em alguns momentos em algo mais próximo de um ensaio visual do que propriamente um documentário.

Escrito e dirigido por Adelina Pontual, em sua estreia como realizadora de longas-metragens, Rio Doce-CDU é uma obra que parte de uma situação extremamente local para tentar compor um painel universal. Como a grande maioria dos espectadores que não forem recifenses devem desconhecer, esse é o nome de uma das mais populares linhas de ônibus da cidade, que vai dos arredores de Olinda até a Cidade Universitária, na capital pernambucana. Mas a cineasta não se restringe a apenas acompanhar os funcionários e, principalmente, passageiros do transporte público. É claro que o componente voyeurístico está presente, mas ela vai além. Há interessantes depoimentos que ajudam a compor este mosaico, tanto de usuários quanto também de pessoas que moram e trabalham em endereços situados pelo trajeto da viação e que tem neste ônibus uma peça fundamental do seu horizonte diário.

Adelina Pontual trabalhou em alguns dos longas mais importantes do cinema brasileiro das últimas décadas, como Central do Brasil (1998) e Carandiru (2003), como continuísta, além de ter dado seu primeiro passo como realizadora com o curta Cachaça (1995), estrelado por Chico Diaz. Se aventurar num projeto mais autoral e ambicioso parecia ser algo natural, mas impressiona perceber como ela consegue se comunicar com eficiência com Rio Doce-CDU. Claro que o fato de tê-lo visto junto a uma plateia pernambucana possa ter influenciado uma avaliação mais precisa, mas esse retorno que o público ofereceu durante a exibição aqui em Olinda parece ir além das meras questões locais, dotando o projeto de um olhar mais global. É aquele velho ditado, “fale da sua aldeia que você irá se comunicar com o mundo”.

Rio Doce-CDU, no entanto, peca apenas por se estender em demasia dentro de um tema que não exigiria tamanho investimento. Justamente por se tornar tão próximo de qualquer espectador, falta-lhe também algo que o torne único, singular, justificando uma curiosidade mais específica. Todo mundo sofre com transporte público no Brasil, não é novidade alguma trabalhadores e estudantes terem que acordar horas antes de seus compromissos e serem obrigados a enfrentarem conduções lotadas para cumprirem seus horários. Então, o que faz esse filme ser especial? Deveria ser o toque humano, que de fato é bonito e envolvente, porém pouco inovador. Temos, no final da viagem, um passeio simpático composto por tipos variados, mas que não perdura muito na memória de quem o acompanhou. Infelizmente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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