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Sinopse
Referendo: Aborda a questão do desarmamento em nosso país, um tema polêmico que trata de assuntos muitos sensíveis. No dia 23 de outubro de 2005 o Brasil votou em uma eleição incomum. Não se tratava de eleger partidos ou representantes para cargos legislativos ou executivos. A questão era responder SIM ou NÃO a uma única pergunta: “o comércio de armas e munição deve ser proibido no Brasil?”. Documentário.
Crítica
Em 23 de outubro de 2005, o Brasil foi às urnas. Desta vez, o eleitor não precisou decorar ou levar anotado uma infinidade de nomes, rostos e números. A votação exigia apenas que se escolhesse entre o sim ou o não para a proibição da comercialização de armas de fogo. Para um país em recente processo de redemocratização, a oportunidade tinha um valor duplo.
A realidade confirmava os números. Os altos índices de violência se faziam sentir e a sociedade amedrontada pela violência e descrente no poder público encaminhava seus votos para o aparente óbvio. As primeiras pesquisas divulgadas apontavam para uma vitória esmagadora do “sim”. Arma, portanto, era sinônimo de violência. Mas à medida que as campanhas foram se desenvolvendo, o “não” ganhou uma força invisível. Referendo, terceiro documentário de Jaime Lerner (de Harmonia, Porto Alegre, meu canto no mundo, 2007, e dos curtas Subsolo, 2007, e Kopeck, 2011), investiga o que esteve por trás da substancial mudança de opinião da população.
Estruturado a partir de três linhas narrativas, o documentário aposta na parte estatística e de pesquisa; no cruzamento de informações e dados; e nas declarações e depoimentos. A evolução tripartite desdobra-se em um filme de caráter político e humano. Somos levados, então, a contrastar duas forças desiguais. Por um lado, observamos como as empresas de armas investiram cifras pesadas na publicidade do “não” e no financiamento político para a defesa de seus interesses. Na televisão, no rádio e na internet, o “lobby das armas” conseguiu alicerçar a convicção do “não” apontando para o atentado à liberdade e conclamando a indignação dos eleitores diante da ineficácia do Estado em gerir a segurança. Na esfera pública, o dinheiro aplicado formatou a “bancada da bala”, políticos dispostos a apoiarem as companhias armamentistas. Por outro lado, o “sim” procurou convencer por meio de depoimentos que demonstrassem a amplitude da violência, apelando para um discurso emotivo e de amor à vida.
O documentário acerta ao levantar hipóteses das possíveis falhas estratégicas do “sim” e ao tentar revelar os caminhos incorretos pelos quais o “não” saiu vitorioso. Certo é, porém, que Referendo chegou mais próximo daquele do que deste. Lerner tem na sutileza e no bom senso a sua virtude. A opinião do diretor nunca se ausenta do discurso e se faz principalmente no eixo humano, com a experiência de homens que reconstroem a vida. Isso, porém, não significa favorecer a sua posição ou apelar para demagogismos. Infantilizar ou debochar da opinião contrária tampouco é um recurso presente, como costumam Michael Moore (Tiros em Columbine, 2002, e Fahrenheit 11 de Setembro, 2004) e Oliver Stone (W., 2008, e Ao Sul da Fronteira, 2009). O público encontra no filme um espaço propício para julgar ambos os lados. Assim, o documentário atinge uma finalidade reflexiva e não a de um mero projeto de catequização.
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