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Sinopse

Luzimar e Gildo são dois grandes amigos de infância que se reencontram depois de muitos anos afastados. Eles cresceram juntos em Cataguases, interior de Minas Gerais. Luzimar nunca saiu de sua cidade e trabalha numa fábrica de tecelagem. Gildo se mudou para São Paulo, onde acredita ter se tornado um homem mais bem sucedido. Na noite de Natal, Luzimar e Gildo se confrontam com o passado e, num intenso e turbulento mergulho na memória, partem para um perigoso acerto de contas.

Crítica

Redemoinho é a estreia no cinema do diretor José Luiz Villamarim, de longa carreira na televisão, espaço em que, recentemente, ganhou prestígio por comandar algumas novelas e minisséries na faixa de horário das 23 horas, como O Canto da Sereia (2013), Amores Roubados (2014) e O Rebu (2014), entre outras, todas caracterizadas por dramaturgia realista e estética mais cinematográfica. No seu primeiro filme, Villamarim se ancora nesse porto seguro, trabalhando com o roteirista George Moura (o mesmo das produções citadas acima) e com atores presentes em suas produções anteriores, como Irandhir Santos, Dira Paes, Cássia Kis e Julio Andrade.

Adaptando o conto Os Amigos, parte do livro Inferno Provisório, de Luiz Ruffato, Redemoinho narra o reencontro entre Luzimar (Santos) e Gildo (Andrade), amigos de infância na pequena cidade mineira de Cataguases, alguns anos após o segundo ter migrado para São Paulo. Ao longo da narrativa, os dois repassam suas trajetórias, contrapondo as escolhas de permanecer no local onde nasceram e de sair para uma cidade grande. É interessante analisar o processo de adaptação da obra do escritor conduzido por Moura e Villamarim. Eles buscam, para além da dinâmica entre Luzimar e Gildo, mergulhar no universo maior criado pelo autor, reproduzindo o cotidiano interiorano cataguasense a partir da seleção de alguns elementos e trechos de histórias contidas no segundo volume de Inferno Provisório, intitulado O Mundo Inimigo. Mas fazem isso com liberdade para atribuir a determinados personagens características de outros do livro, condensando em Luzimar, Gildo, Dona Marta (Kis), mãe desse último, Toninha (Paes), esposa do primeiro, Hélia (Cyria Coentro), irmã de Luzimar, e Zunga (Demick Lopes), amigo de infância dos protagonistas que enlouqueceu, todas os pequenos dramas narrados por Ruffato.

O conto Os Amigos está inteiramente presente em Redemoinho, mas o filme vai além. Nesse processo de adaptação livre, os realizadores inserem na trama um episódio do passado, narrado logo no início de O Mundo Inimigo: a morte acidental do filho de Bibica (Camilla Amado), mulher miserável e solitária. Mas, enquanto na obra de Ruffato o garoto é atropelado por um carro cataníquel e sua morte simboliza a solidão vivida pela mãe, desprezada na cidade por ter sido prostituta, em Redemoinho seu desfecho é outro, trágico a ponto de se tornar um tabu com o qual os protagonistas têm que lidar na vida adulta, encarnando a ruptura e o afastamento ocorrido entre eles.

Talvez resida aqui o problema principal de Redemoinho, que o distancia um pouco do espírito do texto de Ruffato – algo que, a princípio, Moura e Villamarim não parecem querer fazer. Inferno Provisório é um livro muito focado em pequenas coisas, micro-histórias do cotidiano que carregam um misto de tragédia invisível e comicidade patética. Redemoinho, apesar do esforço em registrar momentos banais de vidas banais que se desenrolam numa cidade que tem muito pouco a oferecer a seus habitantes, se alicerça numa tragédia, numa grande questão do passado a ser resolvida por sua dupla de protagonistas. Essa necessidade de apelar para um acontecimento – dois, na verdade, já que no terço final da narrativa surge outro fato grandioso, mas não devidamente desenvolvido pelo roteiro, envolvendo os personagens de Dira Paes e Demick Lopes – talvez revele a permanência de certo vício dramatúrgico televisivo no trabalho de Moura e Villamarim, que acaba conduzindo seu filme a lugares-comuns incômodos, já que as resoluções possíveis para os conflitos apresentados não trazem nenhuma novidade. E, diante do excessivo destaque dado na trama a esse trauma do passado, Redemoinho acaba não conseguindo debater com maior profundidade o que parecia ser seu mote principal: o conflito entre a permanência numa vida interiorana medíocre e a partida para a cidade grande em busca de algo novo.

Ainda assim, o filme é eficiente sobretudo nas relações que estabelece entre seus personagens, devido à conjunção de uma direção elegante de Villamarim (que, ao lado do diretor de fotografia Walter Carvalho, cria um visual belíssimo e ao mesmo tempo opressor para a Cataguases de Redemoinho), diálogos precisos de Moura (muitos, mas não todos, extraídos de Ruffato) e interpretações intensas da dupla central de atores. Especialmente Irandhir Santos, pernambucano, impressiona na composição fortemente mineira de Luzimar, não só por meio do sotaque, mas principalmente do gestual e da postura corporal desconfiada, insegura, introspectiva. É através desse personagem e de seu intérprete que o filme de Villamarim, no fim das contas, mergulha mais profundamente no universo em que se inspira.

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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