Crítica


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Sinopse

Três brasileiros negros nos ajudam a compreender a desigualdade racial no Brasil: Um senador da República, uma quilombola neta de escravizados e um cantor e vereador eleito.

Crítica

O título do documentário Raça pode ser encarado de duas formas, apesar de uma parecer mais óbvia que a outra. A primeira, que logo vem à mente, seria o fato do trio que serve como linha mestre para o documentário ser afro-brasileiro. No caso, a quilombola descendente de escravos Miúda dos Santos, o cantor, apresentador de tevê e vereador Netinho de Paula e o senador gaúcho Paulo Paim. Mas isso seria apenas uma forma de pensar. Raça também é o que podemos chamar da força de vontade de lutar, de proteger seus direitos e de perseguir seus objetivos. E isso, os três protagonistas têm de sobra.

O longa-metragem acompanha o cotidiano das três figuras supracitadas, em momentos distintos de suas vidas, mas com objetivos muito bem traçados. Miúda briga junto de seus vizinhos e amigos o direito de manter as terras dos quilombolas em uma região no interior do Espírito Santo, que estavam sendo utilizadas pela Aracruz na extração de madeira. Já Netinho, naquele momento, abria um canal de televisão voltado para o público negro, chamado TV da Gente. Nele, seria possível observar profissionais da comunicação que nunca tinham espaço em outras redes e assuntos que são “esquecidos” pelas grandes emissoras. Por sua vez, Paulo Paim tentava a todo custo fazer passar o Estatuto da Igualdade Racial, um texto que estava há dez anos à espera de aprovação e que já havia sofrido mudanças demais para o gosto e os anseios do Senador.

O documentário vai mostrando aos poucos cada um dos retratados, sendo prioritariamente um trabalho de observação. Não existem “cabeças falantes” no filme sendo perguntados diretamente sobre seus objetivos e problemas. As falas surgem de conversas entre os “protagonistas” e amigos, ou de entrevistas realizadas por agentes externos ao documentário, como repórteres de televisão, locutores de rádio, etc. Isso, por um lado, é positivo, pois visa mostrar aquelas três figuras em seus mundos particulares, vivendo o seu cotidiano, por mais extraordinário ou ordinário que possa ser. No entanto, o tiro acaba saindo pela culatra pela presença da câmera não conseguir passar um retrato realista daquelas pessoas. Tudo o que a lente aponta acaba surgindo com alguma falsidade. E existe ali uma aparente falta de intimidade com a câmera, algo completamente compreensível, mas que termina por minar as intenções dos realizadores.

De qualquer forma, Raça acaba cativando por conta da luta dos três protagonistas ao perseguirem seus objetivos com tanto ímpeto. Ainda que algumas batalhas sejam perdidas ao longo do caminho e a frustração as vezes abata até os mais inspirados, o documentário consegue capturar algumas importantes batalhas na conquista de uma sociedade mais igualitária e, só por isso, já valeria a pena uma conferida nos cinemas.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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