Crítica

Esqueça o humor burlesco de A Dança dos Vampiros (1967), o terror psicológico de Repulsa ao Sexo (1965) e toda a tensão opressiva de O Bebê de Rosemary (1968). Roman Polanski flertava com outras experiências cinematográficas quando dirigiu Quê? (1972) e foi severamente criticado pela despretensão desta comédia onírica, kitsch, hipersexualizada e um tanto quanto misógina.

Inocente e volúvel, Nancy é uma jovem norte-americana que, durante viagem pela Itália, sofre uma tentativa de estupro e se refugia numa vila mediterrânea. Enquanto se habitua aos tipos bizarros que encontram no local, ela se relaciona com um cafetão aposentado que a insere em constantes e improváveis eventos – nos quais deve se empenhar tanto para superá-los quanto para manter suas peças de roupa no corpo.

Polanski já era um cineasta muito reconhecido e laureado quando lutou para conseguir financiamento e distribuição internacional para Quê?. Diz a lenda que o título do filme surgiu a partir da contestação de um constrangido Carlo Ponti, habitual produtor de Federico Fellini, quando assistiu atônito a produção em seu primeiro corte. O toque de Ponti é notável em muitas sequências e suas referências fellinianas aparecem em algumas passagens pontuais. O que pode ser erroneamente considerado uma homenagem de Polanski ao mestre italiano é apenas o reflexo da liberdade de um produtor na reedição do material original para seu lançamento.

Quê? é repleto de tantas inconsistências e passagens constrangedoras que é difícil destaca-lo entre a magnífica carreira de Polanski, mesmo quando se considera que a produção é protagonizada por Marcello Mastroianni e Hugh Griffith, e apresenta a sexy Sydne Rome – que em incontáveis momentos aparece em tela vestindo nada mais, nada menos que um pequeno guardanapo de mesa.

Ainda que se esforce para imprimir alguma criatividade em seu conteúdo, o cineasta acaba com uma versão perturbada e até mesmo cansativa de Alice no País das Maravilhas, tão pervertida, gratuita e errática quanto a pornochanchada brasileira Histórias Que Nossas Babás Não Contavam (1979). Hedonista, o roteiro de Polanski e Gérard Brach até apresenta alguns momentos de graça, porém desaparece quando comparado a outros acertos da dupla, como Armadilhas do Destino (1966) e Tess (1979).

A bela protagonista, a vila italiana e as performances de Quê? não são suficientes para suprimir os tropeços de Polanski na condução deste filme, enquanto o diretor, assim como sua heroína, parece procurar por explicações e significados que nunca serão encontrados.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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