Crítica
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Sinopse
Pulp Fiction: Vincent Vega e Jules Winnfield são dois mafiosos com a missão de fazer uma cobrança a mando do chefe, Marsellus Wallace. Vincent deve levar Mia, mulher de seu chefe para se divertir enquanto ele viaja. Enquanto isso, Butch Coolidge, um pugilista que foi comprado por Marsellus para perder uma luta, não cumpre a sua parte no acordo e agora precisa fugir do mafioso. De Quentin Tarantino.
Crítica
Dois bandidos pés-de-chinelo, um homem e uma mulher, debatem as dificuldades de seu “ofício” enquanto saboreiam típico fast-food americano no desjejum. Crentes que fazem o melhor, eles anunciam assalto após declaração de amor, em cena já antológica:
“I love you, Pumpkin / I love you, Honey Bunny / Everybody be cool this is a robbery! / Any of you fuckin' pricks move and I'll execute every motherfucking last one of you”.
A imagem congela e os créditos iniciais surgem junto da música-tema. De cara, Quentin Tarantino mostra a que veio, através de uma ocorrência aparentemente banal, ademais início e fim de Pulp Fiction: Tempo de Violência, filme cujo caráter circular compreende três histórias interligadas pela barbárie, como bem explicita o subtítulo nacional.
Noutro espaço, físico e cronológico, Vincent Vega (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) aparecem para cumprir ordens de Marsellus Wallace (Ving Rhames), influente gângster das cercanias. O diálogo, em princípio, é descolado da ação: os capangas discutem sobre lanches e massagens nos pés, isso na iminência de cobrar dívida à força. Contudo, exatamente nessa oposição – seguida de atração – entre fala e evento, reside um dos maiores trunfos de Pulp Fiction: Tempo de Violência. A encenação algo nonsense de Tarantino, cineasta afeito a misturar gêneros, dando-lhes roupagem pop e conferindo paradoxal originalidade ao pastiche, abriga quase à perfeição tanto os tipos dados a verborragias antes e depois de matar, quanto os subtextos não rançosos e temperados de ironia.
Quem há de esquecer o twist dançado por Travolta e Uma Thurman, ela, esposa do chefe mafioso, ou seja, na qual ele não pode pensar em tocar por temer represálias ciumentas? E a injeção de adrenalina cujo efeito é “ressuscitar” a mesma mulher, resgatando-a da terra dos mortos por overdose? Pulp Fiction: Tempo de Violência avança fora da ordem cronológica, embalado por, quiçá, a trilha sonora mais expressiva e funcional da carreira de Tarantino, composta de hits, como: You Never Can Tell, Girl You'll Be A Woman Soon, Son Of A Preacher Man, entre outros. Na cena em que Butch (Bruce Willis) escuta o plano para entregar determinada luta, por exemplo, toca Let's Stay Together, conhecida música romântica, aqui servidora tal contraponto sonoro e, por conseguinte, dramático à face consternada do boxeador impotente frente à crueldade do mundo e à sua própria fraqueza.
Podemos dizer que Pulp Fiction: Tempo de Violência é o principal divisor de águas da carreira do diretor hoje tido cult e importante à própria cena independente americana, então sacudida artística e comercialmente. Tarantino utiliza homicídios, cabeças espatifadas, litros de sangue, coações morais, entre outras espécies mais ou menos físicas de violência, para esquadrinhar um mundo não tão subterrâneo, onde segredos e mentiras valem algo próximo do precioso grama da cocaína. O faz com bom humor, tiradas e personagens que grudaram no imaginário popular, revestindo, ainda, a sordidez com o verniz do trivial, e entregando a retórica pretensamente erudita, porém esvaziada, a párias ordinários e bastante semelhantes aos cidadãos acima de qualquer suspeita.
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