Prédio Vazio

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Sinopse

Em Prédio Vazio, a jovem Luna parte em uma jornada em busca de sua mãe, desaparecida no último dia de Carnaval em Guarapari, no estado do Espírito Santo. Suas buscas a levam a um antigo edifício aparentemente vazio, mas habitado por almas atormentadas. Horror.

Crítica

O amor materno é capaz de mover montanhas. Atravessar gerações. E quebrar o véu entre a vida e a morte. Essa, ao menos, é a ideia por trás de Prédio Vazio, longa dirigido por Rodrigo Aragão e estrelado por Gilda Nomacce. Se o espectador não reconhece estes nomes, a causa provável é o desconhecimento relacionado ao que de melhor tem sido feito nos últimos anos no cinema brasileiro de horror. O cineasta, que chega agora ao seu sétimo longa-metragem, assinou no passado títulos marcantes, como O Cemitério das Almas Perdidas (2020) e A Mata Negra (2018), além de ter sido responsável pela última incursão pela tela grande do mítico Zé do Caixão, na coletânea As Fábulas Negras (2015) – ambos assinam diferentes episódios, juntos com Peter Baiestorf e Joel Caetano. Já a atriz se tornou presença recorrente em projetos bem-sucedidos que compartilham dessa ambientação, como o curta 5 Estrelas (2020) ou o thriller Quando Eu Era Vivo (2014). Ou seja, ele sabe o que faz, e ela é quase como símbolo de sorte nesse meio. Curiosamente, é a primeira vez em que ambos trabalham juntos. E o resultado não poderia ser mais explosivo.

Ao contrário dos seus exercícios anteriores, geralmente ambientados em zonas rurais, em Prédio Vazio, como o título já adianta, Aragão se aventura por meio de retratos urbanos. Ou quase isso. O cenário é a cidade litorânea de Guarapari, na costa do Espírito Santo. Região preferida por turistas de diferentes estados durante o verão, fica praticamente abandonada no resto do ano. Pois é numa destas construções, que por dois ou três meses se vê abarrotada por visitantes, onde a história se passa. Mas não no meio do fervo, nem mesmo em meio aos seus preparativos. A alta temporada chegou ao fim com a passagem do carnaval. E quando todos vão embora, quem permanece é Dora (Nomacce, assustadora em uma tranquilidade que transborda da tela e contagia a audiência, desativando qualquer pré-disposição quanto ao que possa vir a acontecer), a zeladora. É com ela que Luna (Lorena Corrêa) e Fábio (Caio Macedo) se deparam quando partem em busca da mãe da garota (Rejane Arruda), que está desaparecida.

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A ideia parece simples – jovens recebem ajuda de uma desconhecida para encontrar alguém que perderam o contato – mas há mais camadas nesse imbróglio. Para começar, há um prólogo que explora a possibilidades de fantasmas habitarem a construção. E não são da turma do Gasparzinho, muito pelo contrário. Ao invés de camaradismo, eles demonstram fome. Estão revoltados, insatisfeitos com suas condições e anseiam por se vingar dos vivos. Um casal de idosos, moradores do último andar, dão a impressão de levaram uma existência razoavelmente banal. Basta uma noite, no entanto, para que ele seja consumido por estas sombras selvagens. As mesmas que passarão a atormentar a viúva, levando-a a um inevitável suicídio. Será durante essa morte que Luna terá o último contato com a mãe – uma estará no telefone com a outra quando a senhora decide pular da sacada, espatifando-se no chão da entrada do condomínio. Tal situação é mais do que um mero sinal – é a premissa para a sequência de desgraças que sobre elas deverão se abater nos próximos dias.

Aragão não perde tempo com distrações, e vai direto ao ponto em Prédio Vazio. Este é um dos maiores acertos da produção, que em pouco mais de enxutos 80 minutos vai do horror ao cômico sem tropeços ou exageros. Até mesmo sua concepção visual, que tradicionalmente vinha se mostrando cada vez mais rica em detalhes – por vezes até mesmo sobrepujando a necessidade narrativa – agora se confirma comedida, indo apenas até o limite proposto para o convencimento. É um filme de sustos, reviravoltas e assombrações. Mas é também um conto de amores perdidos e sacrifícios calculados. Se pelo olhar de um diretor cada vez mais no controle desta que é sua expertise ou se pela mão de uma intérprete que hipnotiza pela intensidade do mergulho de sua personagem, caberá a cada um decidir. O certo é que uma experiência transformadora como essa é rara, e merece ser percebida – e sentida – com o cuidado (e a leveza) exigida. Tanto como reinvenção de um estilo que merece de tempos em tempos novas injeções de ânimo e entrega, como pelo envolvimento que promove enquanto entretenimento.

Filme visto durante a Mostra de Tiradentes 2025, na cidade de Tiradentes, Minas Gerais, em janeiro de 2025

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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