Crítica


8

Leitores


1 voto 8

Onde Assistir

Sinopse

Sujeito de trato difícil, Emmet Ray é um guitarrista de jazz de mão cheia. Apesar de ter uma série de defeitos, ele acaba ganhando o coração de uma garota muda. Porém, seu comportamento conquistador coloca tudo em risco.

Crítica

Houve uma época em que os filmes de Woody Allen começaram a demorar mais de um ano para estrear no Brasil por conta de uma cláusula contratual. Apenas poderia estrear um longa do diretor quando o anterior saísse de cartaz. O que aconteceu com alguns títulos chegou ao ápice com Poucas e Boas, título que concorreu a dois Oscar em 2000 (Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante), mas o público brasileiro não pôde conferir a tempo da festa. Isto, é claro, não tira os méritos da produção que, mais uma vez, mostra porque o cineasta é um dos melhores naquilo que faz.

Na época de ouro do jazz, entre os anos 1920 e 1930, Emmet Ray (Sean Penn) é um guitarrista do gênero que sofre do mesmo mal que a maioria de seus colegas: o ego inflado sem limites. Sempre desleixado, dificilmente está sóbrio durante suas apresentações. É viciado em jogo, mulherengo, enfim, recheado de características que poderiam fazer o espectador antipatizar de cara com o personagem. Mas é através da música, ou melhor, de seus sentimentos que ele transforma em canções que todos gostam dele. Inclusive a muda Hattie (Samantha Morton), que primeiro gruda no músico apesar do pouco caso dele. É claro que lá pelas tantas o jogo vira e é ele quem se apaixona pela garota.

Através do formato de falso documentário, Allen consegue desnudar a complexa personalidade do músico através dos depoimentos de conhecidos e afins, como se o personagem realmente tivesse existido. Na verdade, não deixa de ser verdade. Afinal, Emmet é o retrato falado de toda a gama de clichês que conhecemos sobre o comportamento errático de artistas. Sua prepotência, arrogância, o pensamento de que pode tudo em detrimento dos outros. É quase uma expansão de seu filme anterior, Celebridades (1998), só que focado (e mais aprofundado) em uma pessoa só.

Esta personalidade ganha ainda mais contornos pela relação de Emmet e Hattie. Se ninguém aguenta o músico, que sempre acredita estar certo sobre tudo, apenas ela, muda, poderia ser seus ouvidos. Afinal, que pessoa melhor para desabafar sem ser questionado senão aquela que não pode falar? Por outro lado, a submissão da garota não é de graça. Sendo diferente no mundo, é difícil que alguém esteja com ela pelas dificuldades de comunicação. Como amante da música, não poderia haver parceiro melhor que Emmet, que pode não ser a pessoa mais agradável, mas lhe conforta com o som.

Contando com um show de atuações da dupla principal que foi indicada (merecidamente) ao Oscar, Poucas e Boas é um bom estudo de personagem. Aliás, mostra que o cineasta é mestre quando se trata de construção de psiques complexas e, nem por isso, menos divertidas. Pois este longa pode ser profundo por um lado, mas não menos engraçado para quem busca apenas uma válvula de escape para o dia-a-dia. Especialmente, para quem gosta de boa música.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
avatar

Últimos artigos deMatheus Bonez (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *