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Sinopse

Depois de ser sumariamente demitido, um rapaz indignado sequestra a filha do ex-patrão. Mas, com a ajuda de dois anjos, eles acabam se apaixonando perdidamente.

Crítica

Danny Boyle dirige uma comédia romântica um tanto diferente em Por Uma Vida Menos Ordinária, terceira parceria entre o cineasta e o ator Ewan McGregor. Depois de ter feito um suspense com pitadas de humor negro em Cova Rasa (1994) e o revolucionário Trainspotting: Sem Limites (1995), o diretor britânico preferiu dar uma sossegada e brincar um pouco com o gênero romcom neste longa, com uma Cameron Diaz no auge de sua beleza e com os divertidos e um tanto caricatos Delroy Lindo e Holly Hunter.

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Na trama, assinada por John Hodge, Robert (McGregor) é um aspirante a escritor que garante seu ganha pão como faxineiro de uma grande empresa. Quando o seu patrão, o sr. Neville (Ian Holm), decide substituir seus empregados por robôs, Robert fica ensandecido pela injustiça. No mesmo dia, ele leva um pé na bunda da namorada e é despejado de sua casa. Sem opções, completamente transtornado, Robert confronta Neville e, em um ímpeto, sequestra a filha do patrão, a rebelde Celine (Diaz). Sequestrador de meia tijela, Robert não sabe o que fazer a partir dali e é ajudado por sua “vítima”, que quer dar uma lição no pai e, ainda por cima, receber uma parte da grana do resgate. Neville, no entanto, não pretende deixar a situação desta forma e contrata dois caçadores de recompensa para encontrar Celine e matar Robert. Eles são Jackson (Lindo) e O’Reilly (Hunter) – dois anjos, na verdade, que foram enviados por Gabriel (Dan Hedaya) para fazer um homem e uma mulher se apaixonarem. E o casal em questão é, lógico, Robert e Celine. Será que eles conseguem?

Como se trata de um filme de Danny Boyle, sempre existe um ponto que o deixa um tanto diferente dos demais. Este “tanto” é a presença destes dois anjos, que servem como catalisadores de partes da história, tentando ajeitar as situações para que o casal principal fique junto. A atuação da dupla é notadamente farsesca, com Holly Hunter exagerando aqui e ali na voz fina e em uma sensualidade fora do lugar, enquanto Delroy Lindo se mostra desiludido com os caminhos que sua profissão o levou. Embora o filme funcionasse completamente sem a presença desta dupla, Boyle notadamente curte incluir algo estranho ou surreal em suas obras, com este trecho certamente tendo chamado sua atenção no roteiro de John Hodge.

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Para uma comédia romântica funcionar, por menos convencional que ela seja, é importante torcer e acreditar no casal principal. Neste quesito, Por uma Vida Menos Ordinária é aprovado plenamente, dada a construção dos protagonistas realizada por Ewan McGregor e Cameron Diaz. O primeiro se entrega a um perdedor de marca maior, um sujeito que não consegue ser ouvido ou se mostrar ameaçador mesmo com um revólver em mãos. O que falta em autoconfiança em Robert sobra em Celine. Ela gosta de jogar, se arriscar e se divertir. Mas seus dias de sossego acabaram, segundo seu pai. Quando ela encontra seu “sequestrador”, existe uma chance de fuga e ela arrisca. A química entre os atores é ótima e seus diálogos cheios de farpas são bons momentos do filme.

Como se mostrou habitual nos trabalhos de Danny Boyle, a trilha sonora é outro dos pontos altos, com canções e artistas fundamentais da década de 1990 emprestando algumas faixas para o filme. Destacam-se “Deadweight”, do Beck; “Leave”, do R.E.M.; “Round are Way”, do Oasis. Outra música bacana, mas não dos anos 90, é “Beyond the Sea”, de Bobby Darin, que embala uma das cenas mais divertidas, com um número musical com direito a roupas de época e penteados estilizados.

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Por uma Vida Menos Ordinária é uma daquelas joias perdidas de Danny Boyle. Não é muito lembrado como um dos grandes filmes da carreira do cineasta, mas diverte e entretém na medida. É verdade que o longa-metragem se estende mais que o necessário e o terceiro ato destoa um tanto do resto do filme. Mas a jornada dos personagens acaba conquistando o espectador e nos fazendo perdoar alguns pecadilhos. Destaque para os créditos finais, com uma animação em stop motion que recria os personagens do filme ao som de “Round are Way” do Oasis.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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