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Sinopse

Rachel Chu é uma professora de economia nos EUA. Ela e Nick Young namoram há algum tempo. Quando ele a convida para ir no casamento do melhor amigo, em Singapura, esquece de avisar à namorada que, como herdeiro de uma fortuna, é um dos solteiros mais cobiçados do local. Isso coloca Rachel na mira de outras candidatas e da mãe dele, que desaprova o namoro.

Crítica

Podres de Ricos é baseado no best-seller Asiáticos Podres de Ricos, de Kevin Kwan, mas poderia, perfeitamente, ser a adaptação contemporânea de um conto de fadas qualquer. Estamos diante de uma pretendente simples, proletária, tentando convencer a abastada família do namorado, sobretudo a futura sogra linha-dura vivida por Michelle Yeoh, de que é boa o suficiente para fazer parte dos círculos sociais marcados por consequentes demonstrações de futilidade e ostentação. A sino-americana Rachel Chu (Constance Wu) é essa gata borralheira da vez, embora tenha entrado meio de gaiata nesse navio encrustado de empáfia e milhões correndo soltos. O herdeiro do império, Nick Young (Henry Golding), não liga demasiadamente para a fortuna que lhe espera, fazendo a linha do afortunado disposto a largar tudo pelo grande amor da sua vida. O teste de ferro se dá quando o casal precisa viajar para Singapura, a fim de prestigiar o casamento de um dos melhores amigos dele. Até quem cobiça a fama dos Young possui dinheiro a dar com pau nesse enredo.

Enquanto comédia romântica, Podres de Ricos segue à risca a cartilha do subgênero, tornando-se narrativamente genérico. As provações de Rachel, a dificuldade de Nick para conciliar as demandas parentais e os desígnios de seu coração, a adesão de uns e a torcida contra de outros tantos, tudo está ali, empacotado como se fosse novidade, mas cujo gosto de comida requentada é inconfundível. Já a moldura guarda algumas coisas curiosas, a começar pela reafirmação do poderio econômico do Oriente. São vários os planos de contexto, especialmente a fim de mostrar como Singapura possui uma arquitetura sintomática da riqueza ali vigente, de pessoas fazendo planos mirabolantes, cujas minúcias custam algumas centenas de milhares de dólares, além de casas que mais parecem palacetes. Alguns desperdícios são lamentáveis, a começar pelos talentos de Ken Jeong – que faz, na verdade, uma participação especial –, e de Awkwafina, intérprete da amiga ótima que pouco aparece.

Henry Golding e Constance Wu funcionam bem como o casal principal. Mesmo sendo frutos de meios sociais bastante diferentes, seus personagens possuem muito em comum, especialmente a disposição em doar-se ao outro, nem que para isso seja necessário abdicar de coisas importantes. Os atores conseguem demonstrar esse afinamento, conduzidos com leveza pelo cineasta Jon M. Chu. Os exageros ficam por conta dos cenários multicoloridos, das extravagâncias que perpassam o comportamento de quase todos em cena. Não há qualquer disposição a tecer críticas a esses estilos de vida, tampouco a brincar, que seja, com a ambição desmesurada das pessoas. Podres de Ricos é um filme que, em prol da mensagem romântica, acaba propagando uma visão alienada da ilha metafórica em que os ricaços vivem soluçando de preocupação por conta de diamantes caríssimos e de como a discrepância social dos componentes de um par podem afetar a saúde, por exemplo, de um relacionamento cheio de pequenas mentiras.

Há duas ou três cenas bem boas em Podres de Ricos que jogam com ícones ocidentais, apresentados com roupagem oriental. A versão chinesa de Material Girl, uma das músicas mais famosas de Madonna, é um desses momentos. Mas, o melhor deles é a recriação da icônica sequência dos helicópteros em Apocalypse Now (1979), comentário tão irônico quanto sarcástico, levando em consideração que no filme de Francis Ford Coppola o avanço dizia respeito, justamente, a um ataque a vietnamitas, ou seja, a um povo oriental. No que tange à técnica, há falhas gritantes de montagem, com raccords mal executados, exceção dentro de uma produção geralmente bem realizada. O mais incômodo, porém, é a celebração do poder econômico, ainda que haja tentativas de mostrar o imprescindível como invisível aos olhos e ao saldo bancário. Mas, esses instantes de mea-culpa são insuficientes para estabelecer um equilíbrio entre o estilo de vida esbanjador e a constatação da absoluta prevalência do amor.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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