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Sinopse

Um sujeito cruel é empregado por agiotas para cobrar suas dívidas. Num determinado dia, uma mulher surge dizendo ser sua mãe. Ela deseja pedir desculpas por tê-lo abandonado na infância.

Crítica

Com a crescente tendência de que filmes tenham os títulos alterados por suas distribuidoras quando lançados nacionalmente, minha sugestão para o mercado brasileiro é que Pietà (2012), 18º filme de Kim Ki-Duk, seja rebatizado como Piegas. Não soa muito distante do original e seria mais honesto com seus espectadores.

Cineasta que coleciona prêmios, Ki-Duk tem entre suas obras mais incensadas filmes como Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera (2003), O Arco (2005) e A Ilha (2000). Após um pequeno hiato afastado dos grandes festivais, ganhou os holofotes novamente – sabe-se lá porque – com uma obra manipuladora, tendenciosa e repleta de seus maneirismos cinematográficos. Interessado em discorrer sobre as consequências do capitalismo extremo, segundo suas próprias palavras, Pietà fica longe disso e demonstra apenas a destreza do diretor em retratar dramas existenciais com extrema superficialidade.

Pietà se inicia com uma sucessão de pequenas sequências que apresentam o “implacável” Gang-Do, que trabalha cobrando devedores de um agiota e os amputando, quando os mesmos não possuem recursos para pagar suas dívidas. Cada pequena história é introduzida com uma apresentação prévia do devedor para que o espectador crie uma empatia com o mesmo – o que serve para que a tortura posterior infligida pelo protagonista seja mais revoltante. Quando uma misteriosa mulher bate em sua porta, no entanto, toda sua rotina se desestabiliza e a violência deixa de servir como escapismo para sua realidade.

Kim Ki-Duk abandona seus recorrentes questionamentos filosóficos e referências orientais para apostar em sensações rasas e desinteressantes. Pouco inspirado na direção, as maiores surpresas, no entanto, ocorrem a partir de seu roteiro, que enfatiza frases risíveis como “Eu não me importaria de morrer por suas mãos” e “Não culpe ele, ele cresceu sem amor”. As resoluções morais do filme, de que vivemos em um mundo impiedoso, vingativo e que não deixa espaço para redenção, são óbvias e colaboram para que o drama central de Pietà se torne tedioso e repleto de inconsistências. Como se não bastasse, o protagonista perde toda sua força quando tem sua personalidade transformada de forma brusca e nada crível com a chegada da supracitada mulher.

A partir do segundo ato, Pietà é desenvolvido ao redor de um mistério de resolução que pode ser antecipada facilmente. Ki-Duk insere alguns indicativos que podem levar seu espectador a prever a solução de sua história – o que, uma vez ocorrido, faz com que o filme perca ainda mais sua força narrativa. Sem a surpresa – talvez um dos trunfos reservados por Kim Ki-Duk para sua obra – o grande vencedor do Festival de Veneza deste ano surpreende apenas pelo sentimentalismo excessivo e banalidade com que o cineasta retrata seus temas.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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