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Sinopse

Peter Pan, o menino que nunca cresce, leva Wendy e seus irmãos para viver uma aventura na Terra do Nunca.

Crítica

No começo do século XX, uma tradicional família britânica se prepara para a noite. Enquanto os patriarcas se aprontam para um evento, seus três filhos só tem cabeça para histórias fantásticas, falando em Peter Pan – um menino que nunca envelhece – e seus feitos na Terra do Nunca. Sem tempo para brincadeiras, o pai logo dispensa os comentários dos filhos e decreta que, quando voltar, haverá mudanças por ali. Wendy, a mais velha, sairá do quarto dos pequenos John e Michael. Estaria a menina pronta para este brusco rito de amadurecimento? Naquela mesma noite, no entanto, outros acontecimentos roubam a atenção das crianças. Peter Pan em pessoa aparece naquele quarto, à procura de sua sombra fujona. Wendy auxilia o garoto e recebe o convite para conhecer a Terra do Nunca, servindo como mãe (ou seja, contadora de histórias) para os Garotos Perdidos, os companheiros de aventura de Pan. Ela e seus irmãos participam da jornada, sob o olhar ciumento de Tinkerbell, a fada amiga do herói infantil. Chegando lá, eles conhecerão um lugar mágico, onde índios, sereias, fadas e piratas convivem de forma (nada) harmoniosa. O pior de todos é o Capitão Gancho, arqui-inimigo de Peter que prometeu vingança depois de ter sua mão cortada pelo garoto, sendo servida logo após a um crocodilo faminto. Em resumo, isto é Peter Pan, 14º clássico animado da Walt Disney Pictures, lançado em 1953.

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Walt Disney tinha faro para boas histórias. Quando se deparou com o personagem Peter Pan, criado pelo escritor e dramaturgo escocês J.M. Barrie, logo quis assegurar os direitos para adaptar a história em uma de suas animações. Além de ter de correr atrás de um hospital londrino para conseguir a aquisição destes direitos, que haviam sido repassados por Barrie, Disney viveu diversos contratempos até poder colocar sua visão da obra para o cinema. A Segunda Guerra Mundial e a crise logo depois de seu final impediram o filme de ser produzido. A demora foi tanta que este foi o último longa-metragem produzido com todos os “nove velhos” da Disney juntos – como eram chamados os mandachuvas do estúdio.

Naturalmente, uma animação de 1953 conferida mais de 60 anos depois de seu lançamento acaba sofrendo com a passagem do tempo. O retrato estereotipado do povo indígena, por exemplo, é algo que nunca seria levado adiante nos dias de hoje. O ciúme doentio de Tinkerbell (a antiga Sininho) coloca a personagem sob uma perspectiva bastante sombria, mostrando uma faceta que, de tão contestável, seria completamente abandonada nas aventuras seguintes da fada. O próprio herói da história é ofuscado pelo vilão, um pirata que não pensa duas vezes antes de atirar em um de seus imediatos que o irritava com uma canção, mas que, ao mesmo tempo, morre de medo de um crocodilo com som de relógio que o atormenta.

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Se estes pontos são discutíveis em relação à animação da Disney, outros ressaltam a qualidade sempre destacável dos trabalhos do estúdio. O capricho na criação dos personagens, na direção de arte e na dublagem das vozes é impressionante até hoje. Aqui, de novo, cabem elogios ao Capitão Gancho – e ao homem que deu a voz ao pirata, o dublador Hans Conried. O ator consegue fazer do vilão um homem ameaçador, mas também com charme o suficiente para não afastar completamente a plateia de seus planos. Ele é vil, utiliza Tinkerbell para seus truques malignos e quer o fim de Peter Pan de todas as formas. No entanto, sua presença é tão carismática que não é difícil acabar gostando do nêmesis daquele garoto perdido. Como era costume na peça de teatro, quem interpreta Gancho também dá vida ao pai das crianças, o que dá muito pano para manga para interpretações a respeito da castração da infância, o que aqueles homens acabam por representar, cada um à sua maneira.

Já Peter Pan representa aquele pensamento indestrutível da juventude. Quando se é jovem, não é difícil acreditar na invencibilidade, na imortalidade, na força colossal da tenra idade em detrimento dos adultos. A atitude do herói desta história é toda baseada neste sentimento de prevalência da juventude comparada à velhice. Wendy, naquele instante, estava vivendo um período de amadurecimento e esta jornada pela qual ela passa é importante para abraçar algumas responsabilidades, mas também para entender que os momentos de brincar e se divertir também são importantes. É por esta epifania que também passa seu pai, ainda que a mudança de personalidade seja mal ajambrada no filme.

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Com ritmo lento – normal para um desenho mais antigo – e com boas músicas, mas não tão memoráveis quanto Branca de Neve e os Sete Anões (1937) ou Pinóquio (1940), Peter Pan pode não conquistar as crianças de hoje em dia tão facilmente, mas tem alguns personagens que podem chamar a atenção. Gerou uma continuação em 2002, quase 50 anos depois do filme original, e uma cinessérie spin off com Tinkerbell como protagonista, que tem qualidade acima da média. O que só mostra que a Terra do Nunca está longe de esgotar sua parcela de histórias.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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