Crítica

Um acidente de avião. Quase todos morrem, apenas uns cinco ou seis sobrevivem. Uma terapeuta é chamada para auxiliá-los a superar o trauma. Ela não tem muito sucesso, por parecer estar tão perdida quanto eles. E todo contato externo que tenta fazer – parentes, vizinhos, colegas – não apresenta resultado. Essa é a trama básica de Passageiros. O que realmente aconteceu a este grupo de pessoas? E qual a importância desta mulher neste caso? Todos estes questionamentos até seriam válidos, caso a conclusão não fosse tão óbvia e banal. Simplesmente não há surpresas, e tudo o que se imagina é exatamente o que acontece.

É complicado discorrer um pouco mais aprofundadamente sobre Passageiros sem revelar dados importantes sobre o grande mistério da história. Portanto, se não quiser saber nada além do enredo, melhor parar por aqui. Mas se decidir continuar, prometo não explicitar como tudo termina com todas as letras. O problema, no entanto, é que basta ter meio cérebro pra adivinhar com muita antecedência o que está acontecendo em cena.

Depois de filmes como O Sexto Sentido e Os Outros ficou muito difícil ser original ao narrar contos de fantasmas. E talvez este seja o maior pecado de Passageiros: o roteiro escrito pelo novato Ronnie Christensen, que estava há quatro anos sem trabalhar e antes disso só havia feito alguns projetos para a televisão. Os diálogos são previsíveis, as soluções são simplistas e os personagens não possuem consistência alguma. Se há algum mérito envolvido está na delicadeza do diretor Rodrigo Garcia (filho do escritor Gabriel Garcia Marquez e responsável pelo comovente Coisas Que Você Pode Dizer Só de Olhar para Ela), que se esforça em criar um clima intrigante, mesmo com tão poucos recursos dramáticos que justifiquem este empenho. Anne Hathaway, por outro lado, como a protagonista, está mais para o desempenho do patético Noivas em Guerra do que para O Casamento de Rachel, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Ela está simplesmente errada. Talvez seja um erro de escalação, mas ela não consegue convencer em nenhum momento. Outros atores interessantes, como Patrick Wilson (Watchmen) e Dianne Wiest (Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada), também não possuem grande oportunidades, limitando-se a repetir chavões como expressões que variam do espanto ao gozo.

Passageiros teve um orçamento de US$ 25 milhões de dólares – considerado mediano para os padrões hollywoodianos – mas não arrecadou nem um quinto deste valor em todo o mundo. Isso, somado às péssimas críticas recebidas, enterraram um filme que, se frustra enquanto entretenimento, ao menos desperta algum interesse pelo que poderia ter sido, e não pelo que é. Mas, para chegar neste grau de análise, é necessária muita dedicação. O que, convenhamos, nada por aqui desperta tamanha atenção.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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