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Sinopse

No dia 30 de agosto, Anders ganha a permissão de sair momentaneamente da clínica onde tenta se recuperar do vício em drogas a fim de visitar um amigo e fazer uma entrevista de emprego. Nesse período, ele pode refletir.

Crítica

Não estranhe o sobrenome do diretor Joachim Trier. Ele é primo distante de Lars von Trier, mas faz questão de ressaltar que nunca recebeu dicas e afins do parente famoso. Porém, chega a ser engraçada a coincidência dos temas propostos por ambos nos seus filmes de 2011. Por sinal, dois longas exibidos também no mesmo Festival de Cannes. Enquanto Lars trata da depressão por conta do fim do mundo em Melancolia, Joachim também fala do mesmo assunto, sob outra vertente, em Oslo, 31 de Agosto, que chega agora aos cinemas brasileiros. Adaptação do livro Le Feu Follet, do francês Pierre Drieu La Rochelle, o longa conta os momentos de Anders (Anders Danielsen Lie), um homem de 34 anos que é liberado de sua clínica de reabilitação, por um dia, para fazer uma entrevista de emprego em Oslo, capital da Noruega. Nestas 24 horas o rapaz se vê de volta ao meio em que vivia, reencontrando e voltando ao círculo de amizades e, é claro, às pessoas com quem dividiu seu vício em drogas e álcool.

Trier não vai pelo caminho mais fácil e parece se espelhar no primo famoso para estabelecer sua direção: os planos são longos, detalhistas. O ritmo do filme é lento, com diálogos extensos, mas bem inseridos, como se revelassem toda a melancolia (com o perdão da redundância cinematográfica) por trás não apenas do perdido Anders e suas decisões, mas sim por cada personagem que ele tem contato. A referência a Em Busca do Tempo Perdido, livro de Marcel Proust, não é à toa, pois se encaixa perfeitamente no que o protagonista pensa, sente, age.

Um dos aspectos mais interessantes de Oslo, 31 de Agosto é seu início com depoimentos em off de pessoas aleatórias sobre os locais, sons e até cheiros da capital norueguesa. Algo que o próprio Anders sente, o que faz esta jogada do roteiro parecer ser uma crítica à cidade ou, não apenas a ela, mas qualquer capital que tenha orgulho de oferecer o melhor para seus cidadãos, mas não consegue que eles resolvam seus problemas. Afinal, sob o verniz da metrópole alegre e recheada de oportunidades, Anders não consegue se encontrar e não sabemos até que ponto ele pode resistir ao seu vício. Cada encontro, cada passo que ele dá na história leva à tensão de sabermos ou não se o protagonista vai ceder às suas vontades mais íntimas.

Ao transformar Oslo não apenas em cenário, mas personagem ativo do filme, quase um antagonista para Anders, Trier revela a grandiosidade dos vícios aliados à tristeza, à confusão, à falta de perspectiva. Oslo, 31 de Agosto pode parecer monótono ou, colocando de forma clara, até mesmo chato em vários momentos. Porém, o filme também serve para atestar mais um talento na família Trier. Algo que já vinha sendo diagnosticado com o longa anterior de Joachim, o sensível Começar de Novo (2006).

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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