Crítica


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Sinopse

Irmãos, Júlio e Carlos se colocam em lados opostos quando a revolução de 1923 opõe chimangos e maragatos. Júlio é prefeito, ou seja, representa o poder constituído, e Carlos está ao lado dos revolucionários e deseja mudanças.

Crítica

A primeira aparição de André Arteche em Os Senhores da Guerra espelha, certa forma, a sua cena em Netto Perde sua Alma (2001), ambos dirigidos por Tabajara Ruas. Tanto naquela produção quanto neste filme mais recente, o ator surge correndo, trôpego, emboscado por seu algoz. Em Netto, Arteche encontra seu destino final na ponta da lança de um lanceiro negro. Em Os Senhores da Guerra, sobrevive após levar um tiro no rosto, disparo que o deixou com grande cicatriz e sem parte dos dentes. Nos treze anos que separaram estas duas produções, Arteche de figurante virou protagonista, Tabajara Ruas evoluiu como diretor nas cenas de batalha, conseguindo suplantar qualquer tipo de limitação para entregar convincentes conflitos, e a direção de arte mantém-se primorosa, cheia de detalhes e esmero. Uma pena que estes cuidados sejam desperdiçados por um filme que, ao final da sessão, não consegue dizer a que veio.

Baseado no livro de José Antônio Severo, o roteiro é assinado por ele ao lado de Tabajara Ruas e foi concebido originalmente como dois filmes: Passo das Carretas e Passo da Cruz. Na trama, os irmãos Julio (Rafael Cardoso) e Carlos Bozano (Arteche) estão em lados opostos na guerra civil que acontece no Rio Grande do Sul em 1924. O primeiro, chimango legalista, prefeito de Santa Maria, ambiciona suceder Borges de Medeiros no Palácio Piratini. Para isso, deve liderar sua tropa contra os insurgentes – dentre eles, seu irmão, um maragato revolucionário que pretende lutar ao lado de Luiz Carlos Prestes contra o governo vigente. A informação que Os Senhores da Guerra era pensado como dois filmes é importante para entender os problemas narrativos do longa-metragem exibido na Mostra Competitiva do 42º Festival de Cinema de Gramado. É notável que muita coisa esta faltando no longa, retirando muito da coesão necessária para se construir um bom trabalho. A motivação de personagens (mais precisamente a viúva que se entrega aos braços de Carlos) seria melhor explicada com mais tempo para o seu desenvolvimento. Tendo de cortar o que podia para conceber uma produção de 124 minutos, sem perceber, Tabajara Ruas acabou sabotando seu próprio trabalho. Com uma história gigante como essa, talvez dois filmes até fosse pouco. Tirando proveito da linguagem televisiva que é tão empregada em Os Senhores da Guerra, talvez transformá-lo em seriado, exibido em algum canal de tevê, fosse a melhor saída.

Utilizando um número gigantesco de talentos do Rio Grande do Sul em seu elenco, Tabajara Ruas se dá ao luxo de oferecer pequenos papéis a atores conhecidos do público gaúcho. Assim, Zé Vitor Castiel, Zé Adão Barbosa, Nelson Diniz, Hique Gomes e o saudoso Miguel Ramos passeiam brevemente pela tela, sem poder mostrar muito do que são capazes. Enquanto isso, o lado mais jovem do elenco, como André Arteche, Rafael Cardoso, Leonardo Machado e Felipe Kannenberg, alguns em franca ascensão, ganham a árdua tarefa de levar o filme nas costas. Quando não são prejudicados pela montagem – a batalha final entre Machado e Kannenberg é inexplicavelmente picotada – conseguem demonstrar evolução em seus trabalhos. Os Senhores da Guerra pode ter muitos problemas, mas também possui qualidades que merecem ser destacadas. As belas paisagens gaúchas e a pegada épica que Tabajara Ruas dá ao seu filme são predicados incontestáveis. Aliando-se a isso a vontade do cineasta em mostrar ao público um trecho importante da história do nosso país, notam-se boas intenções e o esmero do cineasta em construir seu trabalho. As lutas e o preparo dos atores, que se viram muito bem em cima dos cavalos, são detalhes que também impressionam.

O que faltou foi cuidado maior na construção dos planos – existem quebras de eixo gritantes e movimentos de atores dentro do quadro que lembram as temíveis novelas mexicanas – e coesão na trama, até para que pudéssemos mergulhar na história contada e realmente nos importarmos com o que acontece com os dois irmãos protagonistas. Se por um lado técnico, Os Senhores da Guerra é superior ao primeiro longa de Tabajara Ruas, Netto Perde Sua Alma, pela narrativa, este novo filme perde feio a batalha.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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