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Sinopse

O jovem agente do FBI Eliot Ness tenta encerrar o império criminoso de Al Capone na Chicago dos anos 1930. Para isso, vai ter ao seu lado um pequeno, porém brioso, grupo de homens imbuídos do mesmo senso de justiça.

Crítica

Eliot Ness (Kevin Costner) é a retidão em meio à sujeira na época da famigerada Lei Seca. Al Capone (Robert De Niro), por sua vez, encabeça o complexo sistema de contrabando de álcool, bem como as empresas que fornecem fachada de legalidade à contravenção. O protagonista de Os Intocáveis começa tendo problemas com o próprio departamento de polícia e o sistema judiciário, ambos corrompidos pelas propinas que os bandidos pagam. A vista grossa custa caro, nada que os transgressores não possam arcar a fim de se manter operantes. Depois de uma malfadada batida pela qual é ridicularizado na imprensa, Ness decide montar um esquadrão à margem desse sistema viciado. Brian De Palma parte de uma minuciosa reconstrução de época para, antes de tudo, homenagear os filmes de gângsters, gênero muito importante na Hollywood de outrora. Ness é o mocinho por excelência, aquele que faz de tudo para o triunfo da verdade e da justiça.

THE UNTOUCHABLES, Robert De Niro as Al Capone, 1987, © Paramount/courtesy Everett Collection

Em busca de gente incorruptível para combater Capone e seus asseclas, Ness encontra experiência em Malone (Sean Connery), idealismo em Giuseppe (Andy Garcia) e apoio contábil/burocrático em Oscar (Charles Martin Smith). Os quatro são os intocáveis do título, destemidos que remam contra a maré para expurgar a escória da sociedade, para fazer valer a lei. De Palma habilmente divide os personagens entre os bons e os maus para, aos poucos, relativizar essa classificação restritiva, mostrando que nem sempre é possível vencer a batalha sem sujar as mãos de sangue. O heroísmo aproxima a equipe de Ness dos cowboys, noutro tributo do diretor, abertamente um cinéfilo que traz para suas realizações algo da experiência que teve na condição de espectador. Os Intocáveis ressalta a dualidade do comportamento humano, sobretudo diante de situações extremas.

A trilha sonora de Ennio Morricone ajuda a dosar as emoções. A cavalgada dos paladinos em direção à ponte na qual há uma operação ilegal, por exemplo, ganha peso épico em virtude dos acordes do italiano. Eles ressaltam a tenacidade e a bravura daqueles homens que enfrentam tudo e todos para purificar a corrupta Chicago de seus pecados. Já a maestria de De Palma com a câmera fica ainda mais evidente em dois momentos específicos de suspense. O primeiro, a sequência da emboscada à Malone, que apresenta um rigoroso uso da perspectiva subjetiva. O segundo, talvez o mais famoso do filme, o tiroteio na escadaria da estação de trem, homenagem aberta à cena da escadaria de Odessa de O Encouraçado Potemkin (1925), momento precedido pela tensão em torno de uma mãe com dificuldades para subir o carrinho de seu bebê ao pavimento desejado.

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Os Intocáveis é um filme romântico, no sentido de glorificar a integridade dos personagens, contudo, sem com isso permitir uma espiral de moralismos ou outras formas de redução. A cruzada de Eliot Ness contra o império aparentemente inquebrantável de Al Capone é a base de uma trama empolgante, violenta, reverente do grande cinema do passado, além de exemplar no que diz respeito às habilidades de Brian De Palma. Os dramas humanos explorados no roteiro de David Mamet não se submetem à técnica, aos truques dos quais o cinema lança mão para estabelecer-se enquanto meio artístico, mas são por eles engrandecidos, modulados conforme a frequência desejada pelo diretor, seja para ressaltar a aventura, o sucesso ou mesmo a tragédia no caminho dos que lutam contra as probabilidades.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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