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Sinopse

Década de 1960. Joaquim, Dico, Davi e PC são jovens músicos e compositores, que partiram para Nova York em busca de sucesso. Lá formam um grupo, chamado Os Desafinados, e integram o movimento que lançou a bossa nova. Ao longo dos anos acompanham o cenário político e musical do Brasil.

Crítica

Walter Lima Jr. é considerado um dos “mestres” do cinema nacional. Essa percepção, obviamente, se deve muito mais ao seu histórico do que os seus trabalhos atuais, como o altamente irregular Os Desafinados, longa que chama mais atenção pelas presenças de Rodrigo Santoro, Selton Mello e Claudia Abreu como protagonistas do que pelo resultado em si. É um daqueles filmes que começam cheios das melhores intenções, mas que terminam por naufragar em suas próprias ambições. E o pior é que não há nem como disfarçar a frustração.

Impulsionado pelas recentes comemorações dos 50 anos da Bossa Nova, Lima Jr. conseguiu finalmente lançar Os Desafinados, um projeto antigo do diretor que fora filmado em 2006. Com um orçamento exorbitante de R$ 7 milhões – altíssimo para os padrões brasileiros – a produção realmente não economizou. Chamou alguns dos melhores atores nacionais da atual geração, filmou em Nova York e em Buenos Aires, além do Rio de Janeiro, e ainda garantiu na trilha sonora composições de alguns dos maiores mestres deste estilo, como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Pixinguinha e João de Barro, entre outros. Mas todo esse cuidado acaba indo por água abaixo por estar envolto em algo frio e distante, que não se conecta com o espectador e esquece de revelar seu verdadeiro propósito, que é contar uma história de amor que tem como bastidores o nascimento do gênero musical que redefiniu a imagem do Brasil no exterior a partir dos anos 50.

Os Desafinados é o nome de uma banda composta por quatro amigos – interpretados por dois atores e dois músicos, para contrabalancear: Santoro, Ângelo Paes Leme, Jair de Oliveira e André Moraes. Acompanhados de um outro parceiro, um cineasta (Selton Mello), que pretende registrar as andanças dos companheiros, eles se mandam para os Estados Unidos em busca de uma grande oportunidade. Lá encontram outra brasileira (Cláudia Abreu), e nela descobrem também a voz ideal para ser a vocalista do grupo. O problema é que os personagens dela e de Santoro se apaixonam, sendo que ele deixou mulher (Alessandra Negrini) e filho no Brasil. Um herói adúltero, mesmo que de bom coração, é difícil de engolir! E nem a mistureba com perseguição da ditadura militar latina consegue fornecer maior ingrediente para este enredo confuso, repleto de idas e vindas no tempo desnecessárias.

Se tocando eles até se saem bem – com exceção de Cláudia Abreu, que foi submetida contra a sua vontade a uma dublagem vergonhosa – os problemas se multiplicam quando precisam convencer enquanto figuras dramáticas. A paixão entre os protagonistas em nenhum momento convence, e os demais coadjuvantes parecem perdidos, sem foco, nem profundidade. As mudanças geográficas soam gratuitas, já que nada muito drástico é feito num lugar ou noutro. E praticamente não há consequências aos atos impensados de cada um, além daqueles que obrigatoriamente ali estão para conduzirem a ação a um determinado lugar, mesmo que esse seja tal qual é mostrado apenas na imaginação do diretor, sem verossimilhança ou lógica maior. No final o que temos é um filme que desperdiça boas chances, escorrega feio em suas possibilidades e resulta num grande equívoco. Lamentavelmente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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