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Sinopse

Jovem negro que vive na periferia de São Paulo, Heracles acabou de deixar a Febem e está à procura de ocupação. Por indicação de um primo, esse rapaz que gosta de desenhar vira temporariamente motoboy e precisa fazer 12 entregas pela metrópole para provar seu valor.

Crítica

Conheci Ricardo Elias durante o Festival de Cinema de Gramado de 2003. Eu estava trabalhando na cobertura do evento, e Elias participava com o primeiro filme dele, De Passagem. Era o típico concorrente azarão, que ninguém conhecia nem tinha ouvido falar. Uma história simples - dois amigos atravessando a cidade de São Paulo durante um dia, numa espécie de road movie urbano - e com atores praticamente desconhecidos. Pois de "mais um" ele virou "O" vencedor, levando cinco kikitos: Melhor Filme, Diretor, Ator Coadjuvante (Fábio Nepô), Roteiro e Prêmio da Crítica. Consagração total. Por isso a expectativa ter sido tão grande em relação ao trabalho seguinte dele. E, felizmente, posso afirmar: Os 12 Trabalhos é superior à De Passagem!

O cineasta mais uma vez foca seu olhar num grande centro urbano - São Paulo, claro - e da mesma forma, prestando atenção àqueles que vivem às margens dos acontecimentos: desta vez, são os motoboys. Parcela da classe trabalhadora frequentemente desprezada, seja por um preconceito arraigado - são todos malandros, bandidos ou coisa pior - mas, ao mesmo tempo, muito solicitada - como fazer negócios hoje em dia sem o auxílio desses imprescindíveis "leva-e-traz"? Tendo como base o mito grego dos 12 trabalhos de Hércules, o filme tem como protagonista Herácles (o novato Sidney Santiago, premiado no Festival do Rio 2006 e no CinePE 2007 como Melhor Ator), um jovem recém saído da FEBEM que deve provar, em um dia, ser capaz do emprego num serviço de entregas, enquanto vai se esquivando dos problemas deste cotidiano, como clientes irresponsáveis, colegas de trabalho pouco confiáveis e seus próprios anseios profissionais.

O melhor de Os 12 Trabalhos é sua história, bastante simples e direta. Ao mesmo tempo, os personagens são reais, verossímeis, com dramas pessoais e ricos em detalhes, contribuindo para a identificação do público com os dilemas por eles enfrentados - quem nunca lutou por um novo trabalho, para ser reconhecido por seus esforços e para vencer adversidades inesperadas com criatividade e um pouco de sorte? Ricardo Elias conduz sua história sem se intrometer no caminho, de forma discreta e sábia. Ele abre espaço, e o enredo e os atores se encarregam do resto, numa sintonia exemplar.

Com participações interessantes de Lucinha Lins, Vanessa Giácomo, Vera Mancini, Cacá Amaral e Cynthia Falabella, Os 12 Trabalhos conta também com uma boa atuação do gaúcho Flávio Bauraqui (Madame Satã), premiado como Melhor Ator Coadjuvante no último Festival de Recife, o CinePE. Este longa foi premiado também nos festivais de cinema de San Sebástian (Espanha) e de Havana (Cuba). Um competente exemplo do que se está produzindo hoje no Brasil, um filme preocupado socialmente e ainda assim interessante como entretenimento inteligente. Se continuar neste ritmo, Elias tem tudo para ser um dos nomes mais fortes dessa nova geração de cineastas nacionais que está se formando. Que venha mais, e logo!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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