Crítica


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Sinopse

Oliver decide visitar um amigo que lhe salvou a vida durante a guerra. O reencontro com Franklin é marcado inicialmente pela alegria, mas, aos poucos, ele permite que velhos fantasmas adormecidos despertem.

Crítica

Sherman Oliver comenta com seu único amigo, Franklin, que depois de ter se recuperado dos ferimentos da guerra, descobriu que seu nome estava invertido nos prontuários e, por um bom tempo, não se deu conta. Para todos os efeitos, era Oliver Sherman e pronto. Uma espécie de versão distorcida de si mesmo. Mesmo descobrindo o seu verdadeiro nome ao olhar os documentos, não parece que Sherman conseguiu voltar a ser o que era antes da guerra. Tudo indica que sua versão distorcida tomou conta. O fato de ter quase morrido em combate e de ter sido salvo por Franklin, único soldado com coragem o suficiente para voltar e resgatá-lo, deixaram cicatrizes em Sherman. Físicas, na nuca, onde levou um tiro quase fatal, e psicológicas, de pavio curto, enigmático, vivendo como um andarilho, sem amarras ou raízes. O reencontro entre Sherman e Franklin é o que faz girar o tenso Oliver Sherman: Uma Vida em Conflito, longa-metragem de estreia do diretor canadense Ryan Redford.

Franklin Page (Donal Logue) vive com a esposa, Irene (Molly Parker), e seus dois filhos em uma pacata cidade do interior. Sem avisar, Sherman Oliver (Garret Dillahunt) aparece na casa da família Page e é recebido com surpresa por Franklin, que o acolhe de forma bastante amistosa. Apesar de não serem grandes amigos no exército, Franklin salvou Sherman durante a guerra, o que construiu um laço forte entre os dois. Irene tenta dialogar com o amigo do marido, mas logo percebe que ele é arredio demais para tanto. A presença de Sherman na casa dos Page começa a intrigar Irene, que não gosta muito da possível influência que aquele homem possa ter em seus filhos. Franklin o defende enquanto pode, mas uma atitude de Sherman acaba sendo indefensável.

Oliver Sherman foi indicado a dois Genie Awards, o Oscar canadense, nas categorias Melhor Ator, para Dillahunt, e Roteiro Adaptado, para Ryan Redford, que buscou o material de um conto chamado “Veterans”, de Rachel Ingalls. Estes são os pontos certamente mais elogiáveis do longa-metragem. Dillahunt encarna Sherman Oliver como um sujeito difícil de lidar. Apesar de parecer, em primeiro momento, uma pessoa pacata, seu comportamento instável deixa Irene constantemente preocupada. Sempre fitando as pessoas com o olhar baixo, chamando a esposa do amigo de senhora, Sherman se comporta como um cão maltrapilho, por se sentir desta forma. Sua vontade é ser aceito por aquela família, mas por não saber como ser simpático ou agradável, suas chances vão ficando cada vez mais remotas com o passar dos dias.

Não é apenas Dillahunt que tem uma performance elogiável. Molly Parker e Donal Logue fecham muito bem a trinca principal de Oliver Sherman, passando a angústia e a preocupação necessária nos momentos que dividem com o veterano. Logue vive um personagem que está dividido. Apesar de ter salvado a vida de Sherman, pensa se não teria sido melhor tê-lo deixado lá. Talvez seu salvamento tenha sido uma maldição para o colega de armas, no fim das contas. Tentando ajudar Sherman, mas também devotado à família, Franklin precisará eventualmente escolher de que lado ficará. Sua esposa o pressiona por uma decisão, e não está errada em fazê-lo. A mulher foi atenciosa o quanto possível, mas a situação dentro de sua casa chegou a um ponto em que seria inviável continuar. Para sua segurança e a de seus filhos.

O roteiro é hábil em construir estes conflitos de forma orgânica, não transformando os personagens em estereótipos ambulantes. Imprimindo tensão a cada novo momento da história, Redford se mostra um diretor competente em criar um clima opressor. O que o trai neste seu primeiro trabalho é a fotografia lavada do filme, como se tivesse sido um trabalho de um universitário muito competente, mas não profissional. Não fosse a presença de Donal Logue, ator mais conhecido do elenco, pensaria se tratar de um filme amador, inclusive. Com um bom roteiro, com um bom elenco, mas ainda assim amador. A edição, cheia de fade in e fade out (as telas pretas que surgem no meio da trama, fazendo a ligação de um momento da história a outra), compromete também, aparecendo de forma nada elegante, falando contra o filme, assim como sua fotografia.

Ao menos, a trama consegue segurar a atenção do espectador, unindo-se às boas performances do elenco. A história das cicatrizes da guerra em veteranos não é exatamente inédita, mas é contada de forma interessante e seu desfecho triste, apesar de não surpreendente, dá força ao trabalho. Uma estreia promissora de um diretor que pode mostrar ainda mais talento em trabalhos futuros.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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