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Sinopse

Frances é uma jovem mulher cuja mãe acabou de falecer. Após se mudar para Manhattan, ao mesmo tempo em que enfrenta problemas com o pai, forma uma amizade improvável com Greta, uma viúva bem mais velha que ela. Porém, conforme as duas se tornam amigas, as atenções da senhora se mostram mais sinistras do que a garota poderia imaginar.

Crítica

É compreensível que, em Obsessão, Frances (Chloë Grace Moretz) faça vista grossa às evidências de que há algo de errado com a solitária Greta (Isabelle Huppert). Inclusive, a composição da atriz francesa é eficiente no sentido de deixar claro, logo abaixo da superfície, que a cordialidade inicial, o tom confessional e as demonstrações precoces de afetuosidade encobrem algo sórdido. A jovem perdeu a mãe, estando então de guarda baixa, ansiando desesperadamente por uma figura que preencha essa lacuna. Nascida em Boston, mora em Manhattan com uma amiga que surge em cena repetidamente para alertá-la, sem espaço a demonstrações de subjetividade. As constantes ressalvas da colega de apartamento apontam a uma noção de ingenuidade preservada, algo que, assim como a dependência emocional, é utilizado pelo cineasta Neil Jordan somente como forma de oferecer um contexto evidente, parcamente colocado em jogo quando mais se precisaria, ou seja, para substanciar o suspense.

Frances é, portanto, uma garota norte-americana que ainda se acostuma à metrópole e à falta do carinho materno. Sua algoz é uma senhora estrangeira, aparentemente distinta, que passa a lhe perseguir como se numa produção de horror tão logo haja a ciência de um estratagema para fisgar vítimas incautas. A bolsa “esquecida” milimetricamente no metrô é o meio pelo qual a bondade de uma surge e as ambições da outra sem concretizam. O realizador irlandês faz um filme com boa voltagem de tensão, cuja trama prende a atenção e suscita curiosidade, mas que perde intensidade no decurso de uma trama com ares de previsibilidade e minada por uma frouxidão que evita a instauração da atmosfera claustrofóbica. É como se o filme progredisse com o freio de mão puxado, permanecendo de modo claudicante entre a sugestão de uma ameaça e sua efetividade comprovada por fatos e atitudes. Há bem-vindas exceções, como a sequência da perseguição da colega, que efetivamente é intensa e poderosa.

Existem personagens praticamente protocolares em Obsessão. Uma delas é Erica (Maika Monroe), a melhor amiga, no mais das vezes desenhada como mero apêndice no itinerário da protagonista. Nem a atuação essencial no clímax – sua perspicácia e presença de espírito soam forçadas, assim como a participação meramente funcional de Stephen Rea –, é suficiente para dotar essa figura de camadas. O pai de Frances, supostamente vital numa equação em que a dependência afetiva gera determinadas aproximações nefastas, se restringe a ser o genitor preocupado. Além disso, há o reforço do estereótipo do estrangeiro perigoso, algo que ultrapassa possíveis limites da apropriação deliberada de uma convenção bastante vista no cinema norte-americano. Greta é Húngara, fala em sua língua natal (sem legendas) quando deseja parecer ameaçadora, e suas atitudes colocam em risco uma estadunidense classe-média, sintomaticamente vulnerável e propensa a fazer o bem, aliás, pelo qual paga duro preço. Esse retrato, ainda mais atualmente, beira o indecoroso.

Levando em consideração a inconsistência dos personagens e essa evidente acomodação de determinados protocolos do suspense psicológico, Obsessão é bem mais fundamentado nos procedimentos do que necessariamente no desenvolvimento do enredo. Diante disso, a Neil Jordan parece sobressalente o mecanismo do gênero, a forma como certas movimentações e olhares supostamente criam uma atmosfera de instabilidade dramática. Todavia, o cineasta não logra êxito completo em fazer desse longa-metragem uma exasperante jornada propiciada por uma mente claramente perturbada. Ainda que sua produção tenha bons momentos, que mantenha vivo o interesse na resolução dos embates, não é capaz de tornar constantes as sensações de inquietude e apreensão. Dividido entre a insinuação e a demonstração da sanha violenta de Greta, oscilante no que tange à delineação das particularidades emocionais de Frances, o cineasta acaba oferecendo uma trajetória de casca forte, mas de conteúdo frágil.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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