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Sinopse

Na Hollywood dos anos 1930, Monroe Starr é um produtor tão respeitado quanto poderoso, frequentemente levado a confrontar cineastas temperamentais. Seu envolvimento com Kathleen Moore vai balançar as suas estruturas.

Crítica

Saindo de um recesso de quatro anos, Elia Kazan voltou a dirigir um longa-metragem em 1976, a pedido do amigo, o produtor Sam Spiegel, com quem havia trabalhado no premiado Sindicato de Ladrões (1954). O Último Magnata é um filme importante em vários sentidos. Foi o último comandado por Kazan, que se aposentou aos 67 anos; é o único em que dois dos maiores atores de Hollywood dividiram a cena: Robert De Niro e Jack Nicholson; é uma adaptação de um livro inacabado de F. Scott Fitzgerald, que baseou-se na vida do produtor da MGM Irving Thalberg; e é uma visita agridoce a uma época de ouro do cinema norte-americano. Apesar destes tópicos gerarem curiosidade a respeito da obra, Kazan não consegue transformar este material em um filme atrativo. Nem o elenco estelar reunido é bem aproveitado, deixando um sentimento de desperdício que nos acompanha até o seu final, um tanto anticlimático. Sobram as boas atuações de parte dos atores e uma direção de arte impecável que nos leva de volta à meca do cinema da década de 1930.

Na trama, assinada por Harold Pinter, Monroe Stahr (De Niro) é o jovem chefão de um estúdio importante de Hollywood e, portanto, tem o poder de corte, muda roteiros, libera orçamentos, resolve problemas de seus astros, entre outras funções mais ou menos glamorosas. Ele é tido como um gênio na indústria, alcunha dada primeiramente por seu colega de trabalho, o sisudo Pat Brady (Robert Mitchum). No entanto, um interesse amoroso que lembra muito sua falecida esposa tira Stahr do prumo. A beleza de Kathleen Moore (Ingrid Boulting) só é páreo para o mistério de seus caminhos. Enquanto o executivo se apaixona pela moça, uma nova ordem em Hollywood começa a surgir com a criação do Sindicato dos Roteiristas. Ou seja, Stahr não poderá mais fazer de gato e sapato aqueles homens que com sua criatividade alimentavam as engrenagens da era dourada da capital do cinema.

A escolha de Robert De Niro como protagonista é bem fácil de entender. À época, um dos jovens mais bem versados no Método do Actor’s Studio, companhia fundada por Kazan na década de 1940, o ator acabava de sair dos sucessos de O Poderoso Chefão: Parte 2 (1975) e Taxi Driver (1976). Dedicado como poucos, De Niro emagreceu para viver o Magnata do título, um sujeito que vive para o trabalho e que perde o rumo por uma paixão perturbadora. Não podemos nos esquecer que, assim como o confuso Scottie de James Stewart em Um Corpo que Cai (1958), Monroe Stahr se apaixona por uma mulher morta – ou melhor, uma projeção de sua verdadeira paixão, sua esposa já falecida.

Uma lástima que os momentos em que o filme se deixa levar pelo envolvimento amoroso sejam muito menos interessantes do que os centrados nos bastidores da Hollywood dos anos 30. O romance nunca decola, a química entre De Niro e Boulting é gélida – talvez um paralelo com a frieza da morte – e o desfecho desta trama não traz absolutamente nada de novo. Mesmo com as boas performances de ambos atores, nenhum consegue salvar aquele namoro.

Muito mais engajadores são os momentos em que De Niro aparece em ação como um astuto e arrogante chefe de estúdio. O ator parece tão à vontade no personagem que não se intimida em dividir a cena com os grandes Robert Mitchum e Ray Milland (em papel minúsculo e nada desafiador). A melhor dobradinha, no entanto, fica reservada para o final. Jack Nicholson vive Brimmer, o representante do Sindicato dos Roteiristas que vem travar uma conversa difícil com Stahr. Depois de ver as poucas cenas que os dois dividem, ficam a vontade de querer ver mais e a certeza de que algo centrado no embate entre aqueles dois personagens daria um filme muito melhor.

Com Tony Curtis, Jeanne Moreau e Donald Pleasence em papéis pequenos, sem muitas chances de brilharem, e uma jovem Theresa Russell chamando a atenção por sua performance apaixonada e precisa, O Último Magnata é o típico filme que poderia ser muito, mas não entrega o prometido. Só pelo elenco reunido e pelo peso do diretor, vale uma conferida. Um adeus agridoce para um dos grandes diretores do cinema norte-americano.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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