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Sinopse

Tom Ripley é enviado à Europa para trazer o filho de um ricaço de volta aos Estados Unidos. Ludibriado pelo herdeiro que pretende permanecer no Velho Continente com sua noiva, ele resolve assumir a identidade e a boa vida do jovem mimado.

Crítica

A beleza pueril, aparentemente intocável e olimpiana de Alain Delon aparece em total oposição ao tipo maquiavélico e ambíguo que ele interpreta em O Sol Por Testemunha (1960), suspense psicológico de René Clément que adapta para o cinema o romance O Talentoso Sr. Ripley, de Patricia Highsmith, e introduz o icônico personagem à sétima arte de forma quase irretocável. Na obra de Clément, o jovem Tom Ripley tem a incumbência de levar o mimado Philippe Greenleaf (Maurice Ronet), que desfruta de longas férias pela Itália, para o seio de sua família, em San Francisco. Na companhia de sua noiva Marge (Marie Laforet), o boêmio rapaz não demonstra muitas intenções de ceder às investidas de seu amigo para retornar aos Estados Unidos – o que faz com que Tom se valha de meios condenáveis e até mesmo sombrios para manter uma vida extravagante ao lado de Philippe.

Como em Pacto Sinistro (1955), clássico literário de Highsmith levado aos cinemas por Alfred Hitchcock, O Sol Por Testemunha tem como tema central a troca de identidades e as consequências de atos manipulativos e traiçoeiros. Clément, já apontado como o mestre do suspense francês, se vale da mesma carga sutilmente homoerótica do thriller de Hitchcock para introduzir na relação de seus protagonistas, Tom e Philippe, uma tensão de amor e ódio que culmina na superfície dos atos definitivos de ambos, durante uma inesquecível sequência em alto-mar. Aos poucos, Ripley descobre que sua intrincada desventura com o roubo de identidade na belíssima Riviera italiana não é tão simples quanto aparentava.

Ainda que não apresente a reinvenção de códigos cinematográficos que marcava o início da nouvelle vague francesa, nascida na mesma época de sua produção, O Sol Por Testemunha permanece mais vivo na memória de muitos cinéfilos do que tantos experimentos dos amados enfant terribles. Sua estrutura narrativa clássica e a compreensão de Clément a uma linguagem cinematográfica inteligente e comprovadamente eficaz são elementos que garantiram seu status atemporal – o que é comprovado assertivamente em sua seleção para a mostra fora de competição do My French Film Festival em 2015.

Fotografado lindamente pelas lentes de Henri Decaë, que tem trabalhos memoráveis como Os Incompreendidos (1959) e O Samurai (1967) em sua filmografia, O Sol Por Testemunha parece referência para a estreia de Roman Polanski em longas-metragens dois anos mais tarde, com A Faca na Água (1962). A diferença essencial está na ambientação em plena luz do dia arriscada por Clément, que captura não somente os azuis de água e mar em composições deslumbrantes, mas também as reais facetas de seu protagonista.

Entre seus méritos, O Sol Por Testemunha merece sua evidência pelo mordaz estudo de um personagem, assim como pela crítica do consumismo e da propagação de um estilo de vida que promove a indulgência e egolatria – algo que parece sublimado em O Talentoso Ripley (1999), revisita a obra de Highsmith por Anthony Minghella. E a partir de cada reviravolta em sua trama, o espectador é envolto numa irresistível desafio sobre identidade, atração e as singularidades que definem cada ser.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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