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Sinopse

Johnny lidera uma gangue de motociclistas que toma de assalto uma pequena cidade durante uma corrida de motos. Pressionados pela polícia, eles deixam o local e arrumam confusão com outra gangue numa cidade vizinha.

Crítica

Para assistir a Mad Max: Estrada da Fúria (2015), é bom fazer uma maratona com os três primeiros filmes da saga. Revendo os longas, frente a perseguições motorizadas muito loucas sobre duas, quatro ou mais rodas, uma memória distante, mas presente, emergia a todo momento: O Selvagem (1953). Tempos depois, nos deparamos com o brasileiro Reza a Lenda (2016), e novamente o título estrelado por Marlon Brando parecia estar por perto, em algum lugar. Após seis décadas do seu lançamento, o filme de Laslo Benedek se afirma como marco inicial de um gênero que poderia ser chamado de cinemotorgráfico.

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Sem a pretensão de fazer sua genealogia, daremos atenção ao clássico que viria a inspirar muitos road movies. Com enredo simples, a narrativa se concentra em uma gangue de motociclistas que opta por viajar sem destino nos Estados Unidos, contanto que seja em alta velocidade. Ao parar em uma cidadezinha que nos anos 1950 guardava muito do velho oeste norte-americano – mais a vida pacata que o cotidiano violento de foras da lei – os motoqueiros acabam exagerando na bebida e na arruaça, escandalizando a pequena comunidade como faziam quadrilhas no far west. Para complicar a situação, o líder dos Black Rebel Motorcycle Club, Johnny (Brando), acaba se apaixonando por Kathie (Mary Murphy), recatada filha do delegado local que trabalha no bar e que vive atormentada pelo marasmo social e emocional. A paixão entre eles é naturalmente problemática, sua aproximação é difícil e o resultado, não muito promissor. Com um longo e fixo plano de abertura, enquadrado no centro de uma rodovia, o público observa de longe a aproximação do grupo de motociclistas passando veloz pelas laterais da câmera (da tela). O recurso anuncia a barbárie dos motociclistas em contraposição aos bons momentos de antigamente, dualidades exploradas pela narrativa que retrata constantemente o choque geracional pré-contracultura.

Já muito estudado, este embate é amplificado não só pelo ronco de motores envenenados, que proporcionavam liberdade e diminuíam distâncias no gigante território norte-americano, como também pelo som de guitarras eletrificadas, que reverberavam o rock’n’roll entre as plateias brancas e abastadas. Curiosamente, no bar da cidade a jukebox apenas reproduzia country music e rhythm'n'blues de big bands. Lá, o rock chega somente pela gaita de boca e pelas vocalizações de motoqueiros outsiders. Não se amarrando excessivamente ao passado e sem se entregar incondicionalmente a modismos, O Selvagem dosa com eficácia tanto os medos dos mais velhos com relação a uma modernidade que coloca em risco as novas gerações, quanto os anseios dos jovens que não desejam mais o cotidiano enfadonho e anestésico de seus pais. Claro, sendo uma narrativa pensada e filmada há décadas, algumas situações anteriormente radicais se mostram triviais aos olhos de hoje. Por outro lado, há relações sociais importantes que ainda hoje atingem muitas pessoas, como a submissão feminina ao homem e a brutalidade deste, incapaz de lidar com seus próprios sentimentos. Acima de tudo, o filme revela a criação da ideia de teenager, a efervescência ligada ao espírito livre dos jovens e a postura rebelde que tende a torná-los independentes. A vontade de viver perigosamente, rodando sem planos ao som do vento e do rock'n'roll, se torna então uma temática constante no cinema e na vida das futuras gerações.

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Clássico da sétima arte, O Selvagem deixou marcas importantes na cultura pop, inspirando a moda e o comportamento. O jeans e jaquetas de couro Perfecto viraram ícones, meninas se apaixonaram por Brando, rapazes tornaram-se aspirantes a motociclistas durões, e décadas depois gays passaram a cultuar não só a figura de Johnny como o próprio fetiche leather. Na música, a década de 1950 vivia a explosão do rock’n’roll – e é significativo o fato de Black Rebel Motorcycle Club ser o nome de uma ótima banda contemporânea californiana. Já no cinema, a rebeldia, a estrada e os veículos motorizados passam a compor percursos cinematográficos que nos levam até sucessos indicados ao Oscar como também a aventuras pop nacionais.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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