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Sinopse
Numa Tempesta é um focado e carismático homem de negócios que, levado por uma gigante ambição em ser bem sucedido, faz qualquer coisa para fechar novos acordos, mesmo que isso o leve a infringir a lei. Depois de uma negociação dar errado, é pego pela polícia e condenado a cumprir um ano de serviço social. Para tentar salvar sua fortuna, terá que encontrar uma solução onde menos espera.
Crítica
Realizador de dramas que discutem com bastante propriedade temas urgentes da sociedade italiana, como Meu Irmão é Filho Único (2007) e Anos Felizes (2013), Daniele Luchetti se volta agora à comédia em O Rei de Roma. O novo título até pode oferecer uma mudança de registro, mas está longe de deixar de lado as mesmas preocupações que tem acompanhado o diretor durante uma carreira de mais de trinta anos. A impressão é que, se o debate não mais parecia conter discussões sérias e questionamentos profundos – reflexo de um momento histórico que o mundo inteiro parece atravessar – a decisão foi não se render ao inimigo, mas, por outro lado, entrar no jogo usando as regras do outro. Como se pode imaginar diante de situações como essa, nem todos os movimentos serão os mais eficazes. Mesmo assim, é importante destacar que os objetivos perscrutados, ainda que atingidos apenas em parte, seguem sendo o que de mais válido a sua obra tem a oferecer. E isso, felizmente, não foi perdido.
Numa Tempesta (Marco Giallini, de Não Se Mova, 2004) é um milionário que se fez por conta própria, passando por cima de tudo e todos que surgiam no seu caminho. Ele é do tipo que acorda ainda de madrugada para se exercitar, começa suas ligações profissionais antes mesmo do sol nascer e é capaz de cruzar mais de um continente num único dia em reuniões de trabalho. Sem casa própria, vive em hotéis luxuosos que adquire em processos gigantescos de aquisições e fusões. Essa condição, aliás, fala muito sobre o personagem: é um tipo que não se apega a nada, nem ninguém. Está tanto aqui como deixa de estar no segundo seguinte, indo para onde lhe for mais conveniente – seja em termos financeiros, ou mesmo de acordo com os relacionamentos que forem se estabelecendo. O que lhe move é o ganho imediato e a construção de um império que, como não há esforço algum em disfarçar, serve apenas para preencher um vazio existencial que o corrói sem piedade.
O psicologismo barato faz sentido, no entanto. Numa fora, desde pequeno, ridicularizado pelo pai, que sempre o considerou um fraco, inapto para qualquer atividade que se dedicasse. Assim, vencer na vida é mais do que um objetivo: é uma necessidade para seguir existindo. Essa rotina excruciante é virada de cabeça para baixo quando é pego por um detalhe burocrático proporcionado por um descuido de seus advogados e contadores. Considerado culpado, é condenado a passar um ano prestando serviços sociais. É aqui que a discussão de Luchetti começa a fazer sentido: ao colocar o executivo bem-sucedido frente a um grupo de desfavorecidos pela sociedade, será que as distâncias que os afastam são, de fato, tão grandes assim? E aquilo que os afastam, em última instância, não seria feito do mesmo material que pode, enfim, uni-los em prol de um bem comum?
Nesse ponto entra em cena Bruno (Elio Germano, parceiro contumaz do cineasta, e visto há pouco também em A Ternura, 2017). Sem eira, nem beira, vive de pequenos golpes, enquanto tenta garantir um mínimo de condições para o filho único, Nicola (o novato Francesco Gheghi), aquele que parece ser o mais sensato dentre os presentes. Numa e Bruno passam a desenvolver uma parceria de mão dupla, em que um ensina ao outro o que sabe, fornecendo, assim, as armas necessárias para seguirem adiante, seja o caminho que decidam percorrer. Vez que outra o feitiço irá virar contra o feiticeiro, e a consequência será imediata: a missão de ambos estará cumprida. Mas há ainda a presença de Angela (Eleonora Danco, de O Quarto do Filho, 2001), a assistente social responsável por colocar tanto um quanto o outro na linha. Uma diretriz limitada, que a impedirá de observar como, muitas vezes, estarão nas curvas os trajetos mais inteligentes – ou, ao menos, perspicazes.
Levantando provocações que remetem diretamente ao noticiário cotidiano, Daniele Luchetti faz de uma fábula bem-humorada palco para reflexões mais profundas do que se poderia imaginar num primeiro instante. Mesmo assim, O Rei de Roma não deixa de lado oportunidades de conquistar o espectador, seja pelo carisma do protagonista – Giallini está à vontade como uma figura tão exuberante quanto problemática – ou pelo lado humano que seus personagens não hesitam em colocar em evidência. Se fosse mais hábil em dosar suas resoluções, por demais simplistas e pouco elaboradas, talvez atingisse seu intento com maior efeito. As analogias que estabelece, no entanto, são bastante claras. Fazer as devidas conexões, bom, isso já é tarefa de cada um no lado de cá da tela.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
MÉDIA | 5.5 |
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