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Sinopse

Uma mãe passou muito tempo de sua vida confinada em um pequeno quarto com seu filho, um garoto de apenas de cinco anos. Jack cresceu em um universo concebido pela mãe, que apesar do encarceramento, tentou dar-lhe a vida mais normal possível. Porém, com a possibilidade de sair dali crescendo dia após dia, um outro medo surge para eles: o de enfrentar o mundo real.

Crítica

Não é raro o cinema independente norte-americano entregar obras pequenas, mas de conteúdo pesado e mais que atuais em suas discussões. Pois O Quarto de Jack entra nesta lista ao retratar com profundidade um assunto como a criação de um menor. Baseado no livro homônimo de Emma Donoghue (que também é autora do roteiro), o filme dirigido por Lenny Abrahamson parte de um longo caso de cárcere privado para a adaptação de uma criança em um mundo que ela não conhece nada. E é justamente pela naturalidade com que a história é contada que está é uma das produções mais poderosas do ano.

É num quarto de 10 metros quadrados em que vivem Jack (Jacob Tremblay) e sua mãe, Joy (Brie Larson), a quem ele chama apenas de Ma. A rotina dos dois é comer, brincar e arrumar o cubículo em que vivem até a noite, hora em que o garoto precisa dormir no pequeno armário enquanto Joy é visitada constantemente pelo seu algoz, que a estupra toda a vez que aparece. “Em troca” do cárcere (se é possível dizer isso), o homem leva mantimentos para a dupla. Quando surge uma oportunidade de escapar, mãe e filho fazem de tudo para fugir. Mas como reagir ao mundo lá fora após tanto tempo presos?

Boa parte das duas horas de filme se passa no quarto que dá título ao filme. A prisão não é apenas física, mas emocional. Foi lá que Joy engravidou e concebeu a criança após ter sido capturada quando tentou ajudar o, até então, estranho na rua, nos seus 17 anos. Para dar uma infância mais feliz ao filho naquele ambiente inóspito, ela criou um mundo à parte, onde o que passava na televisão não era nem um pouco realidade e os personagens e cenários estavam presos nela. Com isso, a imaginação do pequeno Jack correu solta até ele fazer cinco anos e sua mãe (tentar) explicar que aquilo tudo era imaginário. E os planos do diretor fecham nesta imaginação do pequeno quando o ator mirim (excelente) explana frases que parecem sem sentido, porém refletem toda a criação fantástica dele.

Já para Joy, a direção acerta ao deixa a câmera semiaberta, num conflito entre a claustrofobia de antes e depois do cárcere com o medo de ser livre novamente, especialmente de não conseguir manter a criação de Jack. Claro que ajuda mais ainda a intensa atuação de Brie Larson, que entrega uma mulher amadurecida precocemente por conta dos traumas sofridos e tem um olhar apurado e desconfiado para tudo que se passa à sua volta. Uma performance digna dos aplausos e prêmios que tem recebido, tanto que acabou ganhando o Oscar de Melhor Atriz. Os dois atores conseguem exprimir os sentimentos de seus personagens e a evolução disso desde o início, enclausurados no quarto, até a liberdade na casa onde Joy passou sua infância e ela volta a morar com a mãe (Joan Allen), onde também terão que lidar com a imprensa, ávida por uma entrevista com a garota para saber como foram estes anos todos presa contra sua vontade. E a cena em que ela decide conceder a entrevista se torna, desde já, uma das mais emblemáticas do ano, onde todo o seu sofrimento e questionamentos como mãe vem à tona.

O Quarto de Jack não é dos filmes mais fáceis de se digerir pois toca fundo nas questões relativas à mulher, ao poder sobre o próprio corpo, o abuso e seu consequente trauma e, mais do que tudo, como fazer seu filho entender o mundo como ele é de verdade? A transformação de Joy e Jack é um labirinto de emoções que ora se chocam, ora convergem para um ponto em comum, tornando este título um grande filme sobre um dos maiores sentimentos do mundo que é o amor de uma mãe e os sacrifícios que ela faz pelo bem-estar de seu filho. Tarefa que esta obra torna numa experiência chocante e prazerosa na mesma medida.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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