Crítica


7

Leitores


1 voto 10

Onde Assistir

Sinopse

Diane é uma jovem mulher perdida na vida. Entre uma festa e outra, decide servir como a barriga de aluguel para Thomas e Jacques, um casal de amigos muito próximo. Durante a gestação, ela se muda para a casa dos avós no campo e conhece Fabrice, um eletricista local. Enquanto ela se prepara para dar a luz, os dois iniciam um romance improvável.

Crítica

Na primeira cena, a protagonista de O Poder de Diane está numa balada. Dança feito louca. Xinga um homem qualquer para beijá-lo em seguida. Há um corte à manhã seguinte. A garota (já não tão jovem assim) está deitada à espera de um ultrassom, morrendo de sono. O primeiro ímpeto, ao sair da clínica, é acender um cigarro, mas ela se segura. Muitas cenas depois, voltamos a ver Diane (Clotilde Hesme) dentro de um carro. É outro momento. Ela chora. São lágrimas contidas, de alguém que não consegue expressar seus sentimentos com facilidade. Da comédia ao drama, a força motriz do primeiro longa-metragem do diretor e roteirista Fabien Gorgeat é sua estrela principal. Apenas por ela, esta tocante e divertida produção já valeria a pena.

Diane é uma jovem adulta que não tem emprego fixo, vive às custas dos pais e, para ver se toma algum rumo, resolve atender ao pedido do melhor amigo: ser barriga de aluguel dele e do marido. Thomas (Thomas Suire) e Jacques (Grégory Montel) têm esse desejo há anos, mas será que ela dá conta? Ainda mais quando o eletricista Fabrizio (Fabrizio Rongione) aparece para dar uma chacolhada em sua vida. Conciliar um relacionamento amoroso e uma gravidez pode ser demais para alguém tão inconsequente.

O roteiro ágil não perde tempo e estabelece essa dinâmica logo nos primeiros minutos. Não sabemos muito da vida do casal, a não ser os momentos divididos com Diane. De Fabrizio, temos apenas algumas informações básicas, como o fato dele ter sido casado com uma austríaca que lhe ensinou a gostar de uma banda de rock. O que pode parecer frio e até raso demais nos personagens acaba ganhando força em suas reações aos atos da protagonista. Diane, em si, não faz algo de errado ou condenável. Até dá uma tragada ou outra no cigarro, em momentos bem pontuais, o que sabemos ser potencialmente prejudicial ao bebê no ventre. Porém, a própria tem consciência disso. Ela não possui noção é do quanto sua vida tem de mudar, nos detalhes, para os acontecimentos que vão surgindo. E isso vai do esforço diário de reformar a casa de campo dos pais até compreender que gravidez não é brinquedo e ela precisa acalmar a vida louca que tem.

Em pouco mais de 75 minutos, o diretor consegue criar uma complexa psique para Diane, que vive guiada pela impulsividade. Algo que não vai mudar mesmo com a gravidez, ainda que ela possa dar uma leve aquietada. O mais interessante disso tudo é ver Clotilde Hesme sabendo jogar humor e peso dramático na mesma medida para tornar sua personagem tão humana como qualquer um do lado de cá da tela. Sua imitação de bichos da floresta, seu cacoete com o ombro deslocado e sua sensualidade às avessas são apenas algumas das características que a atriz eleva para construir alguém tão incrível e carismática. Porém, ainda que dê pra rir muito com essa performance, é nos momentos mais densos que Hesme lança apenas um olhar em absoluto silêncio para a plateia entender tudo que se passa em sua cabeça. Um trabalho louvável.

É claro que os três homens ao seu redor ajudam com atuações eficazes, mas o poder aqui, realmente, é de Diane. Não fosse o trabalho de Hesme, talvez esta fosse apenas mais uma dramédia bem feitinha, sem notáveis atrativos. Redondinha, porém sem grandes destaques. Só que a força da protagonista realmente faz com o filme se torne um exemplar acima da média, mesmo que não vá se tornar inesquecível. Ainda mais ao saber questionar com precisão até que ponto a gravidez faz a diferença na vida da personagem, especialmente quando ela dá a luz. Diane não tem controle de sua vida, o que não quer dizer que não saiba lidar com o que tem em mãos. E só por esse empoderamento exaltado, O Poder de Diane já vale uma bela espiada.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
avatar

Últimos artigos deMatheus Bonez (Ver Tudo)

Grade crítica

CríticoNota
Matheus Bonez
7
Robledo Milani
7
MÉDIA
7

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *