Crítica
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Sinopse
Após denunciar o escandaloso envolvimento da CIA com os rebeldes da Nicarágua e o tráfico de cocaína, o jornalista Gary Webb acaba se tornando alvo de uma intensa e covarde campanha de difamação.
Crítica
Diz a lenda que, quando o rei não gostava das notícias que recebia, sua primeira atitude era matar aquele que a havia transmitido, para somente depois ter que lidar com o problema real. Pois é mais ou menos essa a ideia defendida pelo roteiro de O Mensageiro, thriller inspirado em escabrosos fatos reais ocorridos nos Estados Unidos no final do último século. Estruturado do início ao fim como veículo de estrelato para o neo-astro Jeremy Renner, este é um filme que possui importante relevância em relação ao tema abordado, porém peca pela realização convencional e por uma maior coragem investigativa em sua proposta. Tem seus méritos evidentes, mas ressente-se de um olhar mais profundo e detalhado.
Assumindo um papel que chegou a ser disputado por Tom Cruise e Brad Pitt em diferentes estágios da pré-produção, Renner aparece como Gary Webb, repórter de um pequeno jornal do interior que acaba esbarrando em um escândalo de proporções internacionais. Durante entrevistas para uma matéria a respeito de acusados de tráfico de drogas que estariam recebendo um tratamento diferenciado da Justiça norte-americana, ele recebe informações sobre um suposto envolvimento da CIA no estímulo à entrada de cocaína e crack no país como forma de levantar fundos a favor do Contras, movimento revolucionário cujo objetivo era derrubar o governo da Nicarágua. Ou seja, como os Estados Unidos não poderia apoiar abertamente a derrubada de um poder democraticamente eleito, ainda que este se aproximasse perigosamente dos ideais comunistas partilhados pela vizinha Cuba, foi através da facilitação de um mercado ilegal em suas próprias cidades que tal ação conseguiu ser posta em prática. Tal qual Maquiavel, assume-se a verdade de que “os fins justificam os meios”.
Webb viajou para o exterior, foi atrás de pessoas procuradas e levantou o máximo de dados a respeito. Seus editores entraram em êxtase, e com a publicação do artigo o país inteiro parou. Movimentos de protesto entre as comunidades menos favorecidas – aquelas atingidas diretamente pelas drogas – surgiam a todo instante, do governo nacional foram exigidas explicações e a direção da CIA passou a ser questionada. Mas o pior veio dos grandes veículos de comunicação, que, pasmos, indagavam como haviam deixado passar tal história. A solução, no entanto, ao invés de se aprofundar no assunto e corroborar o talento do repórter, foi a contrária: simplesmente desacreditá-lo. Uma campanha massiva de descrédito teve início, suas fontes se tornaram suspeitas e de uma hora para a outra nada do que havia dito parecia ser verdade – não porque o tema carecia de um maior detalhamento, mas apenas por ele ser quem é. Atacava-se o mensageiro, e não a mensagem.
Michael Cuesta, diretor habituado com a televisão em séries como A Sete Palmos (2002-2005) e Homeland (2011-2012), tem aqui seu trabalho mais audacioso no cinema. O resultado, no entanto, é modesto, mais por sua falta de experiência e menos pelo talento dos envolvidos. Afinal, ele conta com um elenco de peso, porém subaproveitado. Nomes como Robert Patrick, Paz Vega, Barry Pepper, Tim Blake Nelson, Andy Garcia, Michael Sheen, Richard Schiff e Ray Liotta, por exemplo, possuem não mais do que uma ou duas cenas, enquanto que praticamente toda a trama fica depositada nas costas de Renner – um intérprete competente, porém não necessariamente versátil. Ressente-se, também, de um maior aprofundamento nas demais forças envolvidas no caso. Entende-se o drama que o protagonista está vivendo, mas em nenhum momento compreende-se por completo como as coisas conseguiram mudar de forma tão drástica, de uma maré de sorte para uma tempestade de horror, sem que quase nada pudesse ter sido feito para evitá-la.
Baseado nos livros Dark Alliance, do próprio Gary Webb, e Kill The Messenger, de Nick Shou, O Mensageiro surpreende justamente por essa falta de foco, ainda que tenha a seu favor um personagem principal tão bem desenvolvido. São muitos elementos em cena, porém a impressão que fica é que falta tempo para absorvê-los à contento. Soma-se a isso a ingrata conclusão real do episódio, e potencializa-se o gosto amargo ao final da projeção. A mensagem – sem trocadilhos – é bastante clara, e por ela o filme se justifica, absolvendo-se quase que por completo dos deslizes cometidos. A coragem deste homem está estampada na tela, mas mais força tem sua frustração e sentimento de derrota, muito bem retratados na sequência envolvendo a cerimônia de premiação dele como Jornalista do Ano. As contradições estão por todos os lados, na ficção e na realidade, e por conseguir provocar essa reflexão com argumentos de peso o esforço dos envolvidos se demonstra válido.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Marcio Sallem | 7 |
MÉDIA | 7 |
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