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Sinopse

Malawi, 2001. O desmatamento de terrenos faz com que, na temporada de chuva, as plantações fiquem inundadas. Com a colheita comprometida e o período de seca extremamente prejudicial a uma nova plantação, a população local passa a, cada vez mais, sofrer com a fome. É quando o jovem William tem a ideia de usar o vento para gerar eletricidade e, desta forma, mudar a vida de todos na região.

Crítica

Não é difícil entender o porquê de Chiwetel Ejiofor ter feito deste sua estreia como diretor de longas. Além da paixão pela história, que fez com que também se aventurasse como roteirista, era necessária a presença de um ator de renome para que uma narrativa do tipo saísse do papel, dentro da lógica habitual do cinema comercial. Sua presença também na direção era uma garantia de continuidade ao projeto, da forma como gostaria. A surpresa é que ele demonstra talento para a função.

O Menino Que Descobriu o Vento é, acima de tudo, cinematográfico. Assim comprova a fotografia em widescreen, que explora com gosto a paisagem desértica do interior da África e posiciona seus personagens de forma a explorar a vastidão de espaço em cena. Assim também é o ritmo imposto pela direção: sem pressa, valorizando os relacionamentos, lidando com habilidade o desespero crescente decorrente da fome, por vezes omitindo a trilha sonora de forma a valorizar diálogos e reações. Esta não é uma história de heróis, mas até poderia ser caso fosse outra a visão implementada. Chiwetel deseja falar de necessidades, do corpo e da alma.

Mais que uma mera história de superação, há entrelinhas relevantes a serem ressaltadas, ainda mais em um mundo de obscurantismo crescente. Uma delas é a devoção à educação em uma sociedade que nela não crê e, até, discrimina quem a defenda. Assim é o casal formado por Chiwetel e Aïssa Maïga, cujas escolhas priorizam que os filhos vão à escola, mesmo que para tanto passem por dificuldades. Outro aspecto, sutil, é a descrença na democracia como decorrência da corrupção, reflexo direto de uma sociedade cansada de ser explorada. Entretanto, não é o lado político o interesse maior de Chiwetel, mas sim o humanitário.

É nas relações humanas que O Menino Que Descobriu o Vento brilha, seja no sofrimento ao olhar ou no respeito implícito existente em família e amigos. Nem tudo é preciso, entretanto. Há uma vilanização conveniente na figura do diretor da escola, no sentido de agilizar o contraditório sem desenvolvê-lo a contento - é assim e pronto! Além disto, personagens relevantes no início do filme simplesmente desaparecem da narrativa, sem justificativa. Não por acaso o filme apenas engrena de fato em sua metade final, quando foca no que realmente tem a dizer.

Sensível e bem dirigido, O Menino Que Descobriu o Vento mostra como é possível escapar das armadilhas típicas das histórias edificantes ao trabalhar a conjuntura de forma a valorizar a essência, mais que buscar o endeusamento. Por tal percepção e também pelo ritmo narrativo empregado, Chiwetel Ejiofor é (também) um diretor que merece ser acompanhado com atenção. Que venham novos filmes!

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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