Crítica


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Sinopse

Após a grande seca que acabou com os estoques de água nos reservatórios da região do sudeste, a documentarista Eliza Capai decide investigar as faraônicas obras de reservatórios na região da floresta Amazônica, conversando com a população ribeirinha, os pescadores e os indígenas que habitam as margens do rios Xingu, Tapajós e Ene.

Crítica

Na história folclórica que dá título a O Jabuti e a Anta, novo documentário de Eliza Campai, uma anta do mato tenta expulsar um jabuti de seu lugar. Como ele se recusa a sair, a anta, maior e mais forte, pisa no pequeno e vagaroso jabuti, afundando-o na terra. O jabuti, paciente, caminha por vários dias até finalmente encontrar a anta, agarrar-se nela e a morder até conseguir derrotá-la. Não é difícil entender a razão pela qual a realizadora escolheu essa metáfora como nome de sua obra. Ela pretende, aqui, dar rosto, nome e voz aos "jabutis", à gente humilde que é oprimida por enormes corporações com poderes que parecem ilimitados.

Descrito pela diretora como um “boat movie”, este filme navega por diferentes rios que têm usinas hidrelétricas como fator comum. Às margens de cada um deles, comunidades ribeirinhas e indígenas que foram deslocadas, ameaçadas e prejudicadas por danos à fauna e à flora causados pelas obras. O eixo central da narrativa é a construção – atualmente em andamento – da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na bacia do Rio Xingu, estado do Pará. Para explicar a situação preocupante, a cineasta nos leva também a dois outros rios: o Tapajós, onde há um projeto de complexo hidrelétrico que pode ameaçar o território indígena; e o Ene, na Amazônia Peruana, onde o povo conseguiu derrubar os planos de uma empreiteira local e proteger sua terra.

Este é um filme essencial para aqueles que desejam compreender a questão de Belo Monte, bem como as consequências de uma obra de tal magnitude; é um trabalho, entretanto, de caráter mais humano que simplesmente informativo. Embora acadêmicos e ambientalistas tenham apontado inúmeras vezes os perigos socioambientais criados pela hidrelétrica, números e estatísticas não conseguem, por exemplo, ter o mesmo impacto do testemunho de uma mulher que foi forçada a deixar a sua casa ou o olhar de uma criança indígena que pode ter sua aldeia e cultura apagadas em nome do "progresso". Capai compreende que não basta seu público saber que existe injustiça, é preciso que o espectador veja e ouça os personagens contando suas histórias para que, então, se aproxime da situação. É uma ferramenta que serve para humanizar uma tragédia ambiental antes abstrata, é algo que emociona, gera empatia e revolta.

Enquanto a câmera contempla com carinho cada um dos personagens e as deslumbrantes paisagens que os cercam, a narração da atriz Letícia Sabatella faz uma série de reflexões sobre o consumismo que fomenta essas construções colossais, a crescente demanda energética e o modo de vida das pessoas que ficam de fora desse contexto, vivendo em harmonia com a natureza. As fantásticas fotografias de Carol Quintanilha também são um complemento importante para a obra. Equilibrando tons de pesar e esperança, este belo documentário procura compreender as consequências do desenvolvimento irresponsável, apesar de não fingir ter respostas simples para as várias questões que levanta; parece suficiente fazer com que suas histórias toquem o espectador, transformando essa obra sensível e envolvente num convite à reflexão sobre temas muito importantes.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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