Crítica


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81 votos 7.2

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Sinopse

Quando um soldado aparece certo dia na porta de uma mãe, alegando ter lutado ao lado de seu falecido filho, ela o convida para ficar. A decisão, porém, causa rebuliço na família, que apesar disso vai aos poucos se afeiçoando ao estranho, ainda que algumas suspeitas comecem a surgir.

Crítica

Segunda colaboração de Adam Wingard e Simon Barrett, responsáveis pelo terror Você é o Próximo (2011), O Hóspede é repleto de homenagens a obras do passado e não faz segredo algum a respeito de suas raízes. Já nos primeiros segundos de projeção, o título do longa surge numa fonte deliberadamente "retrô", embalado por uma trilha sonora que poderia ter saído de qualquer um dos clássicos de John Carpenter. Como vários outros indies recentes, este longa busca inspiração no cinema de trinta ou quarenta anos atrás, mas carrega originalidade o suficiente para se sustentar como um produto independente da nostalgia do espectador.

A trama acompanha a chegada de David (Dan Stevens) à casa dos Peterson, uma família que acaba de perder seu filho mais velho em um conflito no Afeganistão. Dizendo ter sido um grande amigo do rapaz durante seu tempo no exército, David é acolhido e rapidamente conquista os membros da família. Porém, quando estranhas mortes começam a acontecer nas redondezas, a jovem Anna (Maika Monroe) sente algo sinistro por trás da impecável gentileza do hóspede de seus pais e decide investigar.

Depois de ficar conhecido por interpretar um mocinho na série britânica Downton Abbey (2010-2012), o inglês Dan Stevens surge aqui como o perfeito herói norte-americano. Um super-soldado loiro, cordial, gentil e másculo, "David" (aspas justificadas pelo fato de que seu nome real jamais é revelado) seria Capitão América se o processo que fez de Steve Rodgers um herói tivesse o transformado num completo psicopata. Nesta obra repleta de qualidades, a performance de Stevens é, talvez, a maior; na pele de um personagem carregado de ambiguidade, ele exala charme e carisma ao mesmo tempo que deixa a audiência profundamente desconfortável com seus maneirismos robóticos.

Conduzida com segurança por Wingard, a narrativa começa estruturada como a de um filme de terror, apostando numa atmosfera tensa ao sugerir, aos poucos, que há algo de errado em situações aparentemente normais. A segunda metade, porém, segue as convenções do cinema de ação e fica cada vez mais absurda e violenta, aspectos que o filme abraça completamente. Assim, O Hóspede pode ser exagerado e até meio tolo, mas jamais se leva a sério o suficiente para fazer disso um problema. O ar descontraído prevalece até nos momentos que deveriam ser sérios; o sangrento clímax da história, por exemplo, acontece em meio a engraçadas decorações de Halloweeen de um colégio, com direito a bonecos péssimos, insetos de brinquedo, gelo seco, sons de trovões e gargalhadas maléficas.

Embora ainda traga alguns diálogos dolorosamente expositivos, o roteiro tenta, na maior parte do tempo, manter uma aura de mistério sobre seu personagem titular, sem explicar exatamente suas origens e todas as consequências do procedimento que o transformou na máquina de matar que conhecemos. Aqui, essa falta de informação faz a diferença, já que contribui para o senso de estranhamento que o personagem de Stevens provoca nas outras figuras da trama e na audiência. Divertido e despretensioso, O Hóspede faz o melhor de seu modesto orçamento; Wingard demonstra seu indiscutível talento na direção, a excelente fotografia banha os personagens em vibrantes cores neon e a ação é sempre embalada por uma ótima trilha sonora, repleta de sintetizadores e pop oitentista.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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Marina Paulista
8
Francisco Carbone
7
MÉDIA
7.5

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