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Sinopse

O cientista Jack Griffin trabalha no laboratório do Dr. Cranley, onde tem a liberdade para investir em seus próprios experimentos. Até que um dia ele desaparece, deixando Flora, filha de Cranley, preocupada. Griffin está escondido em um pequeno hotel, onde tenta reverter o resultado de um teste que infligiu em si mesmo e que o deixou invisível. No entanto, a droga que utilizou tem também um terrível efeito colateral: o deixa agressivo e perigoso. Agora, fará de tudo para conseguir reaver sua aparência.

Crítica

Diferente de outros atores que protagonizaram os filmes de monstros da Universal, Claude Rains não ficou preso nesse universo por sua interpretação como o personagem título de O Homem Invisível. Talvez por não aparecer em tela durante quase toda a história, o intérprete do obcecado doutor Jack Griffin, que depois de uma experiência científica some (literalmente) do mapa, conseguiu alçar voos mais altos, sendo indicado quatro vezes ao Oscar como Ator Coadjuvante por produções inesquecíveis como A Mulher Faz o Homem (1939) e Casablanca (1942). Na Universal, nesta seara dos longas de terror, atuou também no menos lembrado O Mistério de Edwin Drood (1935) e nos clássicos O Lobisomem (1941) e O Fantasma da Ópera (1943). Sua atuação em O Homem Invisível é um dos motivos pelos quais o longa até hoje tem peso. À época, os efeitos especiais chamaram atenção e levaram pessoas ao cinema apenas pela novidade em (não) ver o protagonista na tela. Mas oitenta e tantos anos depois, o que fica mesmo é o trabalho vocal de Rains, que transmite toda a insanidade do seu personagem, sem precisar aparecer todo o tempo.

Na trama, baseada na obra de H.G. Wells, acompanhamos a espiral de loucura do doutor Jack Griffin (Rains) que, depois de uma experiência bem-sucedida, consegue ficar invisível. O problema é que sua mente foi afetada pelo experimento e uma sede de violência, morte e poder se apossaram do antes pacato homem. Quem sofre com esse desvio é sua noiva Flora (Gloria Stuart), que ainda acredita em uma recuperação. Depois de tentar reverter a experiência em uma pousada isolada, mas sendo atrapalhado pelos moradores do local, Griffin decide colocar em prática seus planos de dominação mundial e escala seu antigo companheiro de laboratório, o doutor Kemp (William Harrigan) para ajudá-lo. Temeroso pelo seu destino, Kemp alerta as autoridades da presença do homem invisível em sua casa. Mas como capturar uma criatura que não se pode enxergar?

Dos monstros da Universal, o Homem Invisível é o mais sanguinário e, curiosamente, um dos poucos humanos. Nada mais assustador, afinal, do que uma pessoa que poderia ser um membro da plateia sucumbindo aos seus anseios de poder e destruição. Ele é um dos personagens que mais fere ou mata pessoas em cena, conseguindo inclusive descarrilar um trem vitimando centenas. Com voz potente e ironia certeira, Claude Rains faz de Jack Griffin um vilão clássico, mesmo não tendo seu rosto em cena por 99% do tempo. O ator aparece sob as bandagens e vestindo casacos e pijamas em alguns momentos, mas boa parte do filme é apenas sua voz que dá o tom da sua atuação. Curiosamente, Boris Karloff era o ator preferido da Universal para fazer o personagem, mas acabou recusando o papel por não aparecer em cena. Rains então foi convidado por sua dicção perfeita, algo que seria vital para um personagem que é, basicamente, uma voz ambulante.

Embora não sejam nada impressionantes nos dias de hoje, é possível imaginar o impacto que os efeitos especiais de O Homem Invisível alcançaram à época. Para 1933, fazer um ator desaparecer não era fácil. Com criatividade, os responsáveis pelas trucagens conceberam fios para dar a ideia de que objetos passeavam na tela levados pelo tal sujeito sem sombra. Quando era necessário que ele se despisse em cena, uma versão mais primitiva da conhecida tela verde foi arranjada – no caso, uma tela de veludo preta, com o ator vestindo também uma roupa desse material. Impressiona o tanto que conseguiram fazer com tão pouca tecnologia.

Com uma trama interessante e um elenco bem escalado – reparem que Gloria Stuart, a mocinha do longa, viveria a velhinha do sucesso Titanic (1997) – O Homem Invisível é um dos mais interessantes filmes de monstros da época, mesmo que não goze da mesma fama de Drácula (1931) ou Frankenstein (1932). Assim como seus companheiros de terror, ganhou diversas sequências (a primeira delas estrelada por Vincent Price, em 1940) e remakes ao longo dos anos. Mas o charme e criatividade sempre estarão presos ao original, comandado por James Whale, um dos pais mais ativos dos temíveis filmes de terror da Universal.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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