Crítica
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Sinopse
No passado, eles viveram e amaram. Atualmente, cercados de dores, eles tentam reviver o passado a fim de compreender a inexplicável experiência de amar, tendo em vista que esse sentimento é passageiro.
Crítica
Dois cineastas e três atores decidiram, em 2013, conceber e produzir dois longas-metragens em conjunto, filmados simultaneamente e exibidos nos festivais de Roterdã, na Holanda, no do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Os diretores são os amigos Bruno Safadi e Ricardo Pretti, enquanto que os intérpretes são Mariana Ximenes, Leandra Leal e Jiddú Pinheiro. Os filmes receberam os nomes de O Uivo da Gaita e O Rio nos Pertence, e em comum tinham o fato de discutirem a impossibilidade do amor pleno a partir das relações existentes entre um triângulo amoroso formado, obviamente, por duas mulheres e um rapaz. Destes dois trabalhos, no entanto, surgiu mais um, feito posteriormente a partir das imagens captadas durante suas realizações: O Fim de uma Era, longa que desde o título se anuncia como o encerramento de uma trilogia que acreditava ter muito a dizer, mas preferia, no entanto, apostar naquilo que ficava subentendido.
Com isso em mente, tem-se uma ideia do que encontrar em O Fim de uma Era, um filme, antes de mais nada, recomendado apenas aos iniciados. Aqui não há história, personagens, fotografia nem início, meio ou fim, mas, por outro lado, há tudo isso e muito mais – depende, portanto, de como cada um irá encará-lo. Mariana Ximenes e Leandra Leal estão novamente à frente da tela, ocupando o quadro com suas estéticas perfeitas e fotogenias privilegiadas. Mas elas não interagem, não criam tipos, não possuem passado, presente ou muito menos futuro. São apenas imagens. Emoldurando-as, o discurso corre solto, narrado por nomes conhecidos do circuito de arte alternativo, como Fernando Eiras, Maria Gladys e Helena Ignez. O ator-fetiche de Julio Bressane, uma das estrelas da pornochanchada nacional e a viúva de Rogério Sganzerla. Nada, como se pode ver, é por acaso.
Sganzerla e Bressane fundaram, em 1970, a produtora Bel-Air, que entre outras coisas tinha como meta “fazer do cinema brasileiro o pior do mundo” (como dito pelo primeiro ao Jornal do Brasil em 1969). O que Safadi e Pretti querem é resgatar essa iniciativa, produzindo uma obra fechada em seu próprio umbigo e sem possibilidade de comunicação ampla e generalizada. Seu diálogo se dá apenas com os escolhidos, com aqueles que os entendem em um outro nível, quase subconsciente. É preciso, antes de mais nada, estar convencido de que se é especial a ponto de embarcar nesta barca furada e certo de que irá chegar até seu término satisfeito com a jornada. Uma missão para poucos, como se pode imaginar.
Fala-se muito em O Fim de uma Era em que “deve-se pensar um filme de amor, tal qual deve ser feito”. O Uivo da Gaita é sobre a desconstrução do sentimento a partir do confronto dos gêneros, enquanto que O Rio nos Pertence luta contra os estereótipos para, das cinzas, propor algo novo. A soma de ambos não resulta atraente principalmente por esquecer que cinema é imagem com palavra, e não somente um ou outro. Estes dois elementos estão, aqui, desencontrados, e parecem lutar o tempo todo para assim permanecerem. A poesia que forçosamente busca é artificial, pomposa e desprovida de emoções reais. O artificial que se espalha pelo filme atinge também o espectador, que sai dessa experiência inerte ao que foi exposto. Vazio, tal qual seu discurso.
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