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Sinopse

​Brad Sloan tem um emprego estável, uma casa confortável em Sacramento, uma esposa amorosa e um filho talentoso, com quem vai visitar possíveis universidades. Mas Brad não consegue parar de se comparar com antigos companheiros que encontraram riqueza e fama trabalhando no mercado financeiro, em inovações tecnológicas ou no mundo da política.

Crítica

Em determinado momento de O Estado das Coisas, longa escrito e dirigido pelo comediante Mike White, o protagonista Brad, vivido sem muita inspiração por Ben Stiller, finalmente decide confessar o que vem lhe atordoando há tempos: “veja meus amigos, estão todos em melhores situações do que eu. Um tem seu próprio jato particular, o outro vive aparecendo na televisão e o terceiro se aposentou antes dos 40 anos. Olhe pra mim, o que eu consegui?”. Como resposta, sua interlocutora, uma garota que é amiga do filho dele e que o conheceu neste mesmo dia, lhe dá um tapa de realidade: “você? Você tem tudo. Uma boa casa, família, um emprego que faz a diferença nas vidas de milhares de pessoas, uma esposa que lhe ama e um filho exemplar. O que mais você quer?”. Pois bem, talvez fosse a hora de, no caso da aparição de um gênio da lâmpada, realmente pedir a única coisa que aqui falta: uma boa história.

O diálogo descrito acima se passa mais ou menos após uma hora de filme. Ou seja, o espectador já passou da metade da trama ouvindo reclamações e lamúrias de um homem insatisfeito consigo mesmo, ainda que não tenha motivo algum para isso. É preciso, como se percebe, ter muita empatia pelo personagem para seguir atento ao desenrolar dos acontecimentos. Porém, isso também é algo que lhe faz falta. Se revela uma tarefa árdua tentar compreender o sofrimento deste homem apático em relação ao mundo, quando tudo sempre esteve aos seus pés. Ah, ok, um dos amigos não lhe convidou para o seu casamento, um ano atrás. Mas quantas vezes ele mesmo entrou em contato com estes antigos companheiros? A vida muda, as pessoas se afastam uma das outras, e tudo isso faz parte de um processo natural. O que não parece sensato é perder duas horas das nossas vidas literalmente lamentando o leite derramado.

Ben Stiller é um ator que fez muito sucesso em comédias como as trilogias Uma Noite no Museu e Entrando Numa Fria. No entanto, qualquer um que acompanhe sua carreira mais de perto percebe uma tendência à melancolia, seja em projetos mais pessoais, como Caindo na Real (1994) – seu primeiro longa como diretor – ou títulos mais recentes, como A Vida Secreta de Walter Mitty (2013) ou as parcerias com o diretor Noah BaumbahEnquanto Somos Jovens (2014) e Os Meyerowitz (2017). O Estado das Coisas, portanto, se encaixa nessa segunda corrente. Porém, ao invés de um realizador experiente, White é mais um aventureiro, com uma carreira mais expressiva como ator (Casamento em Dose Dupla, 2008) e como roteirista (Emoji: O Filme, 2017). Como os créditos indicam, é difícil levá-lo à sério. E por mais que o elenco pareça minimamente comprometido, o argumento que aqui tenta defender simplesmente não tem como ser levado a sério.

Quando encontramos Brad pela primeira vez, ele está em plena crise dos 40 (ou dos 50, pois Stiller nasceu em 1965), questionando-se a todo instante. Vislumbra um futuro infeliz e solitário, por mais que more em uma ampla casa, tenha ao seu lado uma mulher que não compartilha destes sentimentos depressivos e seja pai de um garoto que é um verdadeiro gênio da música. Aliás, aí está o leitmotiv do filme: o rapaz tem sido disputado por várias universidades, e ele precisa do pai para acompanhá-lo durante uma semana de visitas aos campus até que decida em qual ingressar. Este passeio desperta várias lembranças, assim como muitas frustrações. Nenhuma, no entanto, capaz de, definitivamente, mudar sua vida. Afinal, não passam de “white people problems”, ou seja, problemas de pessoas brancas de classes abastadas que, aparentemente, nunca enfrentaram uma real dificuldade na vida.

Pois é basicamente isso que a garota lá do primeiro parágrafo tenta alertar ao protagonista. Porém, quando o filme encontra a necessidade de expressar o sentimento de toda a audiência de forma tão explícita – e, para piorar, nada faz para considerá-lo um alerta eficiente – é porque, de fato, há algo muito errado acontecendo. Ben Stiller é um ator monocórdio, e não consegue oferecer a profundidade necessária a uma figura que deveria despertar interesse e curiosidade, mas tudo que consegue oferecer é desprezo e irrelevância. O saldo só não é pior pois ao seu lado está Austin Abrams (Cidades de Papel, 2015), que demonstra um talento insuspeito diante de um tipo unidimensional, indo além do pouco que lhe é oferecido. Luke Wilson, Jemaine Clement e, principalmente, Michael Sheen, são participações curiosas, mas de uso tão pontual que mal chegam a afetar o rumo das coisas. Em resumo, O Estado das Coisas é mortalmente entediante do início ao fim, e se como lição de vida está longe de funcionar, muito menos encontra valor enquanto entretenimento, tão descartáveis são as filosofias baratas que tenta vender.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
4
Yuri Correa
7
MÉDIA
5.5

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