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Sinopse

Finian e sua filha deixam sua Irlanda natal para se aventurar pela América de posse de um valioso tesouro: um pote de ouro! Acabam chegando no Vale do Arco-Íris, uma pequena cidade no estado de Missitucky. Lá, os dois encontram Woody Mahoney, um sonhador que espera tornar famosa sua cidade. Nesta terra, os sonhos destes homens se cruzarão.

Crítica

O Caminho do Arco-Íris é um filme estranho que anda numa linha bastante tênue entre o divertido não convencional e o realmente ruim. Trata-se do último musical estrelado por Fred Astaire. Aliás, há algo de muito sedutor na maneira como ele não se esconde sob maquiagens ou efeitos de câmera, mostrando rugas e dificuldades corporais para realizar os passos de dança, cuja execução perfeita de outrora foi seu maior charme. Astaire podia já estar velho, mas sua energia ainda contagiava, mesmo ele não sendo de todo o personagem central.

E se o veterano intérprete se despedia dos musicais, o longa-metragem marca a fase inicial da carreira de outro grande nome, o diretor Francis Ford Coppola, que ainda não havia atingido a consagração, obtida com os posteriores Apocalypse Now (1979), a trilogia O Poderoso Chefão e Drácula de Bram Stoker (1992). O cineasta, porém, já exibia um apuro visual atraente, com os belos planos abertos que servem de fundo para os créditos iniciais, por exemplo, ou as composições de quadro que englobam personagens e cenários em perfeita harmonia. Explorando ao máximo os seus set pieces, a trama não nega a origem dos palcos, com personagens que saem de cena para dar lugar a outros que estariam vindo das coxias numa versão teatralizada.

Enquanto acompanhamos a chegada à América de Finian (Astaire) e Sharon McLonergan (Petula Clark), pai e filha imigrantes da Irlanda que trazem um pote de ouro roubado do leprechaun Og (Tommy Steele), somos apresentados ao vilarejo Vale do Arco-Íris, comunidade onde o adorado Woody (Don Francks) está tentando ajudar o botânico Howard (Al Freeman Jr.) a criar uma nova espécie de tabaco que vai garantir o sucesso e o sustento de todos ali. Entretanto, os habitantes estão sob ameaça de despejo, já que o Senador Rawkins (Keenan Wynn) quer a todo custo comprar as terras do lugar, situação que muda de figura com a chegada dos McLonergan e seu furtado pote de ouro mágico.

Recheado de músicas ao menos agradáveis, embora nem todas sejam memoráveis, O Caminho do Arco-Íris ousa apostar em demoradas sequências de dança, numa época em que os musicais já começavam a perder força – a própria duração (duas horas e vinte minutos) reflete isso, já que os filmes do gênero costumavam ter quase três horas. Os números existem apenas para si e sua apreciação, como as sequências de ação num filme policial, que acontecem apenas porque se espera que elas ocorram. Se em Amor, Sublime Amor (1960), alguns anos antes, os sapateados e as coreografias eram representações não literais de enfrentamentos violentos ou interações das gangues protagonistas, aqui estes momentos raramente encontram ancoração no roteiro e soam, na maioria das vezes, como abstrações aborrecidas que poderiam ter sido facilmente cortadas da versão final. Isso teria, de fato, dado maior agilidade a esse filme que causa diversão, mesmo com a esquisitice de sua trama.

É solicitado ao espectador, afinal, que compre rápido demais a ideia de certos personagens, subtramas e assuntos, o que pode causar, e certamente causa, estranhamento. Quando é inserida a pauta do racismo numa história que não prometia aborda-la, o roteiro tem alguma dificuldade para contornar a seriedade e continuar com o seu clima descontraído. Em parte é bem-sucedido graças à cena protagonizada por Howard e o Senador Rawkins envolvendo uma caminhada realmente muito lenta – e hilária - para entregar um refresco.

Ao fim, saber que esta foi, de certo modo, a despedida de Fred Astaire como o conhecíamos, também ajuda a simpatizar com o projeto e a rir um pouco mais da performance over de Tommy Steele, com sua voz estridente que, de alguma forma, faz uma rima adorável com os modos fluídos de Astaire. Ver Finian partir na sua eterna busca pelo fim do arco-íris é um adeus apropriado não só para o personagem como para o ator, que apesar da idade não disfarçada, ainda era o mesmo jovem que no último plano surge ao longe pulando com vivacidade um cercado em direção a novas aventuras. Talvez este take já justifique a existência do filme.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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