Crítica
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Sinopse
Drácula é um conde vampiresco que se torna obcecado por Mina Murray, noiva do jovem advogado Jonathan Parker.
Crítica
No início do século XIX, entre 1816 e 1817, a jovem Mary Godwin, junto com o namorado, Percy Shelley, e mais dois amigos, os escritores Lord Byron e John Polidori, foram passar o verão à beira do Lago Léman, na Suíça. Entre outras atividades que participaram para ajudar a passar o tempo durante esse retiro voluntário foi que cada um deveria criar uma história de terror. O que muitos sabem é que foi nessa ocasião que Mary, então com apenas 19 anos e que futuramente assumiria o sobrenome do marido, Shelley, criou o temido monstro de Frankenstein. Mas o que poucos lembram é que a trama imaginada por Polidori chamava-se O Vampiro, que seria a primeira história ocidental contendo essa criatura tal qual a conhecemos hoje. Foi essa narrativa que, anos depois, inspiraria Bram Stoker a dar vida ao seu Drácula. E é este romance, da forma mais acurada possível, que Francis Ford Coppola levou às telas no hoje clássico Drácula de Bram Stoker.
Ainda que o título carregue o nome do autor original – uma prática do próprio Coppola, que remete ao seu desejo anterior de batizar seu maior trabalho como O Poderoso Chefão de Mario Puzo, ou seja, respeitando a autoria literária – e procure ser, de fato, fiel ao livro no qual é baseado na maior parte do tempo, Drácula de Bram Stoker apresenta uma grande diferença: trata-se, em última instância, de uma comovente história de amor, ao invés de somente um conto de terror (mesmo que ainda o seja, é claro). Drácula é um nobre da época das cruzadas que, logo após partir para a batalha, é dado como morto. Isso faz com que sua noiva se suicide de desgosto. Ele, no entanto, retorna, e quando descobre o ocorrido fica louco, assassinando todos ao seu redor. Uma maldição, neste ponto, recai sobre ele, condenando-o à eternidade em busca do amor perdido. Que só será encontrado séculos depois, quando, ao receber um corretor de imóveis em seu castelo na Romênia, identifica na noiva deste a imagem perfeita da mulher que tanto amou muito tempo antes.
Ao realizar O Fundo do Coração (1981), filme que acabou custando cerca de dez vezes mais do que seu orçamento original, Francis Ford Coppola foi à falência, sendo obrigado a se envolver com vários projetos em sequência apenas para pagar suas dívidas. Um destes longas foi O Poderoso Chefão 3 (1990), sequência que havia jurado nunca fazer, mas que acabou sendo convencido do contrário. Uma das atrizes escaladas para este filme foi Winona Ryder, que, no entanto, desistiu na última hora, criando um grande problema para o diretor. Tentando se desculpar com ele, ela o apresentou outra proposta, uma que estrelaria como protagonista: Drácula! Foi a partir deste convite que ele se envolveu com a realização, pois além disso era uma história que há muito ansiava para levar às telas. E mesmo que suas filmagens não tenham sido as mais tranquilas, e recuse tratar essa obra como sua (“fui um diretor contratado, para fazer um roteiro já pronto, a partir da iniciativa de uma atriz”, afirmou posteriormente), é possível perceber a genialidade do cineasta em cada cena. Este foi, indiscutivelmente, o último dos seus grandes filmes.
Contando com o filho Roman Coppola ao seu lado como diretor de segunda unidade, Francis fez de seu Drácula de Bram Stoker uma ode às origens do cinema. As inspirações e homenagens são muitas, do óbvio Cocteau e sua A Bela e a Fera (1946) até O Iluminado (1980, de Kubrick. Sua versão – dentre as tantas já feitas a partir deste personagem – é quase como se fosse a primeira, caso o livro tivesse sido lançado pouco tempo antes. Filmado inteiramente em estúdio, teve todos os seus efeitos concebidos e executados como nos tempos de Georges Méliès, um dos pioneiros da sétima arte. Usa-se muito – e com inteligência – a presença das sombras e o impacto que elas provocam, além de outros artifícios igualmente básicos, como jogos de espelhos e miniaturas. O resultado é assombrosamente atual, mesmo mais de vinte anos após o seu lançamento, e cai com estilo dentro da proposta assumida.
O romance entre os dois protagonistas – Drácula, interpretado à perfeição por Gary Oldman (em todas as suas versões, dando um show do departamento de maquiagem que foi, merecidamente, premiado no Oscar, assim como os impressionantes figurinos de Eiko Ishioka e os competentes efeitos sonoros), e a Mina de Winona Ryder – ocupa grande parte da história, mas não sua totalidade. Há outros dramas em paralelo, como o destino do noivo da moça (Keanu Reeves, em participação apática), o caçador de vampiros (Anthony Hopkins, um tom acima do necessário) e a melhor amiga da mocinha, Lucy (Sadie Frost), que se torna a primeira vítima do amante sanguinário, motivando seus três pretendentes (Cary Elwes, Billy Campbell e Richard E. Grant) a tentar salvá-la a todo custo. Estes acontecimentos paralelos motivam o desenrolar da ação, ao mesmo tempo em que ajudam a envolver o espectador neste clima de mistério e sedução, empregando um erotismo moderado e muitos sustos, aproveitados na medida certa. Drácula de Bram Stoker é exatamente o que se espera: sexy e aterrorizante.
Mesmo tendo se envolvido contra a sua vontade, Francis Ford Coppola teve aqui um dos seus grandes sucessos de público (é um dos dez filmes sobre vampiros de maior bilheteria da história, com mais de US$ 200 milhões no mundo todo) e de crítica (além dos três Oscars, foi indicado ao Bafta e premiado na Academia de Cinema de Terror, Fantasia e Ficção Científica como Melhor Filme do ano). Drácula de Bram Stocker é um trabalho memorável, que se destaca em sua filmografia, ao lado de títulos grandiosos, como A Conversação (1974), Apocalypse Now (1979) e, claro, a trilogia O Poderoso Chefão. Uma obra de peso, que assume com coragem suas escolhas, entregando o que se espera dela e muito mais, não se conformando com o óbvio e investindo na criatividade ao reinventar um conto atemporal, porém mais moderno do que nunca.
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