Crítica


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Sinopse

Duas organizações poderosas, encabeçadas por Juarez e Gaspar, traficantes e donos de casas de jogos e boates, entram em guerra entre si. Juarez resolve destruir comercialmente a organização de Gaspar, e, para este fim, decide investir milhões de cruzeiros, ampliando seus negócios.

Crítica

Francisco Cavalcanti - ou Chico, como ficou conhecido por todos – foi um dos realizadores mais atuantes da Boca do Lixo, com mais de 20 filmes, em muitos deles também atuando, especialmente como protagonista. Não era bonito, mas tinha aura de galã. Alguns de seus longas alcançaram grandes bilheterias, como Ivone: A Rainha do Pecado (1984), que levou às salas mais de 1,6 milhão de espectadores. Como em boa parte das pornochanchadas, Cavalcanti apostava nas tramas policiais com um pouco de humor negro e muita erotização para alcançar o público. Algo que não poderia faltar em O Cafetão, ainda mais com um título tão explícito.

Na trama, duas poderosas quadrilhas disputam pontos de prostituição e venda de drogas, obviamente entrando em guerra. O conflito fica mais ainda acirrado quando o dinheiro de um dos mandantes, Juarez (Ruy Leal), quase vai parar nas mãos do rival, Gaspar (João Paulo). Só que a mala com o montante acaba justamente nas mãos de Pedro (Francisco Cavalcanti), pobre engraxate que não faz ideia do embate.

Para quem realmente acha que pornochanchada é muito sexo explícito, pode ficar bem feliz com esta produção, pois transas e pessoas peladas não faltam. A cada frame parece ter alguém colocando as partes íntimas para fora, frontalmente, sem pudor algum. Certas cenas na cama, inclusive, parecem feitas a rigor, tamanha a veracidade. Numa delas, basicamente dá para ver a penetração. Por falar nisso, numa das sequências mais dantescas de tortura entre as quadrilhas rivais os bandidos encurralam vários criminosos na piscina e ameaçam um deles, especialmente, com um arma no meio das pernas, na traseira. O filme também conta com a bela participação de Zilda Mayo, uma das grandes musas da pornochanchada, talvez como a única personagem feminina com voz mais ativa na trama.

Apesar dos esforços, o filme de Cavalcanti acaba sendo misógino em boa parte do tempo, seja pelas cenas de estupro, abuso e, inclusive, quando coloca as amantes dos traficantes para brigarem “pelo meu homem”, como uma delas afirma. O filme é o legítimo exemplar do “machão”, algo bem arcaico para os dias de hoje. Não que Cavalcanti não tenha aprendido ao longo dos filmes como tratar melhor o tema da sexualidade feminina. Inclusive trabalhava na montagem e edição do documentário Meu Pai em 24 Quadros, dirigido pelo próprio filho Fabrício Cavalcanti, quando morreu há dois anos. Grande perda para a sétima arte brasileira, a de um profissional que deixou outros títulos bem melhores que este.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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