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Sinopse

Lírio é um caipira ingênuo, nascido em Itu. Devido às gigantescas proporções de seu pênis, ele vai à cidade grande, onde se transforma em um "homem-objeto" para mulheres da classe alta. Em meio a esta situação, Lírio passa por inúmeras dificuldades até encontrar seu par ideal.

Crítica

Talvez um dos mais populares entre seus semelhantes, O Bem Dotado: O Homem de Itu é referência na pornochanchada tanto pelo êxito de público na época de seu lançamento quanto pela leveza com que aborda seus temas e, obviamente, o sexo. Diferentemente de grande parte do gênero, aqui este último elemento é apenas sugerido e, de explícito mesmo, há somente uma ou outra nudez feminina – bastante pudica, por sinal. Sendo assim, se o espectador procura pelo cinema brasileiro erótico dos anos 1970 e 1980, esta não é a melhor opção, uma vez que a produção de José Miziara se dedica mais ao humor. Se a busca é por exemplares da comédia das décadas supracitadas... Bom, este filme também passa longe de merecer a indicação.

Nuno Leal Maia, galã versado nos exemplares do gênero, tem em mãos – e em outro lugar de sua anatomia – o papel-título do filme como Lírio, rapaz interiorano e inocente que vai de Itu para São Paulo com a intenção de trabalhar em uma casa de família. Sua capacidade como mordomo não é lá muito notável, porém logo as mulheres ao seu redor descobrem outro talento oculto do rapaz, no tamanho incomum de seu pênis; afinal, ele é natural de Itu, onde miticamente todas as proporções são as maiores possíveis. A partir daí até o subir dos créditos se sucede uma série de gags que envolvem o membro avantajado de Lírio e alguma abusadora seminua.

Se no início Lírio relutava em ceder seus encantos às muitas investidas que recebia, logo ele passa a propagar o sexo como atividade saudável e normal, afinal, “todo mundo está fazendo”. É com esse argumento que ele convence Nice (Sueli Aoki) à prática sexual, sem perceber que antes disso ela já estava completamente nua à sua frente. Todas as mulheres de O Bem Dotado: O Homem de Itu carregam algum estigma sexual, seja na falta ou no excesso, na frigidez ou na ninfomania. Esperar por menores caricaturas dos personagens é inocência, uma vez que foi justamente nos arquétipos e excessos que se fixaram as maiores características da pornochanchada.

Se há algo que permite reflexões em O Bem Dotado: O Homem de Itu é o olhar crítico dedicado ao falso moralismo da família tradicional brasileira, esta que ainda persiste em replicar aparência e discurso que não condizem com suas práticas. Por baixo dos lençóis (com o perdão do trocadilho) encontram-se traições em diferentes níveis, relações deturpadas entre patrões e empregados, a superficialidade no modo de vida da chamada alta sociedade, entre outros apontamentos que permanecem pertinentes. A figura feminina, ainda que hipersexualizada e apresentada numa perspectiva fetichista que se resume em estereótipos – a empregada, a patroa, a nipônica – carrega algum discurso feminista, pois a mulher também é dominadora e não se submete ao homem quando não deseja. Esperar mais conteúdo é um convite à frustração, afinal, na pornochanchada qualquer argumento e roteiro são justificativas para explorar nudez, sexo e erotismo – algo que aqui, de tão brando, sequer mereceria uma classificação 18 anos.

Curiosamente, o filme tem entre seus apoiadores a Prefeitura Municipal de Itu. Imagine como deve ter sido a reunião que decidiu a aprovação da colaboração municipal para um longa-metragem, digamos, irreverente como este. Eram mesmo outros tempos! O Bem Dotado: O Homem de Itu, como na reputação da cidade de seu título, é mais longo do que deveria e nem por isso mais funcional. O sexo é morno e a comédia é rasa, geralmente prejudicada pela sonoplastia questionável e recursos mais apelativos nos cacos do que no sexo. Em termos mais adequados, eis uma grande brochada cinematográfica.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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