Não se Preocupe
Crítica
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Sinopse
Um grupo de amigos viaja para uma cabana no meio da mata e combinam serem totalmente honestos uns com os outros enquanto estiverem ali. Com isso, algumas feridas se abrem. Depois de alguns dias, ninguém mais será o mesmo.
Crítica
É evidente neste primeiro longa-metragem de Jeshua Dreyfus a necessidade de afirmação de um discurso. Não Se Preocupe acompanha cinco jovens a caminho de uma pequena estada numa cabana em meio aos montes suíços. Há uma intenção acentuada em concretizar uma história audaciosa: eles iniciam, meio que sem querer, uma brincadeira que consiste em falar todas as coisas que deixam de falar em nomes de regras sociais. Segredos revelam-se, intrigas acontecem, brigas e olhares truncados dão a tônica da brincadeira que vai se tornando mais perigosa. Audaciosa, pois o filme abre as portas para uma captura plenamente revigorada de relações, ênfases e desejos retidos em nome da boa convivência.
Os jovens tentam iniciar um jogo de verdades, embora a câmera não consiga dar conta de olhar para estes personagens com o ímpeto e a dinâmica que toda aquela ambiência pedia, com um olhar mais próximo dos dramas que poderiam realmente sustentar um registro menos quadrado, mais permeável à própria ambição da trama. Os problemas se amontoam. Não existe uma tentativa clara de estabelecer um registro mais premente. Embora sem psicologismos, o filme oscila claramente entre o drama jovem, com seus sexos e conflitos algo idiotizados sendo reprimidos pela notável inabilidade de Dreyfus em conceber um espaço de ação que não dependa de algo que lhe é somente externo, ou seja, as expectativas anunciadas - que, no limite, jamais se cumprirão.
Como podem existir imagens que ambicionam contar verdades quando a câmera não olha com decência para seus personagens, não os identifica (são francamente muito ruins os planos fechados nos rostos: nada revelam e também nada escondem, provavelmente por não existir nada ali, nenhuma substância, nenhum desejo, nenhum sangue) para além de mostrar como falam, como comem, como caminham. Tudo bem, é claro que o filme não quer mostrar o que vem antes (certamente não poderíamos cobrar algo como uma “construção de personagens”) e também o que irá acontecer em seguida ao intercurso de aventura pois, como é visível, seu recorte é bem direcionado, mas há nitidamente um problema de perspectiva na forma de olhar para aqueles jovens, aqueles corpos jovens. Por incrível que pareça, ainda há o problema do corpo, mesmo quando este é observado pelo olho do contemporâneo. A verdade, a libertação, não são mais que aparências de palavras que se pretendem verdadeiras e sexos que se nutrem apenas de uma “simbologia do gozo”, quero dizer, o que fica é sempre o resultado da experiência, nunca a experiência concreta. Parece mesmo sintomático que o alívio após o sexo seja tomado com suficiente para ressaltar a liberdade do corpo, sua incorrigível emulsão de calores e energias pulsantes.
Os personagens sempre são os outros, o tempo verbal do filme (e talvez isso passe pela aparente tentativa do roteiro de tentar criar um distanciamento equilibrado entre todos do ponto de vista dos protagonismos) é sempre aquele da possibilidade, do que pode acontecer, do “se” e do “pode ser que”, quando, a bem dizer, nada efetivamente acontece. Não há uma vontade em reter algo com firmeza, de capturar a pressão da atmosfera, de dar alguma carne ao espírito. E daí todo esse Éter, essa tentativa de pureza, escorre do filme. Pureza inclusive dos filtros: da luz e da vontade de criar algum realismo. De fato, quando algo de substância se anuncia, como o sexo, a câmera prefere filmar a lua e depois negar plenamente o corpo, cobrindo-o, escondendo-o com um pudor que assusta, afinal o filme se projeta o tempo inteiro sobre esses falsos anúncios de uma juventude em ruptura com os pudores, mas, logo na hora de mostrar o corpo, prefere virar a câmera para o céu.
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