Violet
Crítica
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Sinopse
Em um centro comercial vazio, Jonas é esfaqueado até a morte, enquanto Jesse olha paralisado de terror. Os criminosos fogem e seus motivos não são claros. O evento marca o início de um tempo horrível para Jesse, que perde seu melhor amigo, e se fecha para seus pais e para os outros meninos do BMX. O incompreensível permanece incompreensível e todos continuam a andar em círculos, como se nada tivesse acontecido.
Crítica
Violet parte logo de um crime brutal. O longa-metragem de estreia de Bas Devos começa com a câmera fechada em um monitor. Aos poucos vai se abrindo e mostrando outras telas. Primeiro vemos apenas um rosto, depois outro. Os corpos aos poucos vão ganhando espaço nas telas dentro da tela. Percebe-se algum nervosismo. De repente, outro jovem que passava pelo local cai após brigar com um dos que já estavam lá. Agoniza. Enquanto isso, a câmera lentamente recua até mostrar vários monitores que captam a ação de vários ângulos. Os dois primeiros jovens saem correndo. Um corte e já estamos lado a lado com outro personagem que estava ali o tempo inteiro e, portanto, presenciou o assassinato, mas sequer conseguiu se mover. É interessante toda essa operação inicial, pois ao mesmo tempo em que há um plano-sequência, também há um conjunto preciso de cortes nas telas dos monitores, na montagem instantânea que eles criam. É uma dinâmica precisa, orgânica, essa dos cortes dentro do plano contínuo.
Pois Jesse (Cesar De Sutter) era quem estava lá no momento do crime. Foi um amigo seu a vítima do crime. Violet parte disso para desmembrar, durante todo o resto do filme, o que esse caso insólito causa na vida de Jesse e das pessoas da cidade. A história é bastante simples e é em torno disso que o filme irá decorrer. É evidente que há um talento aqui, existe uma intenção bastante clara em “transmitir as coisas por imagens”, na linguagem visual, sonora e simétrica de uma relação de intimidade com a matéria cinematográfica, mas há também problemas de assimilação da forma através da qual essa relação pode ganhar corpo e assumir a transcendência do filme, isto é, tirá-lo dos atalhos, do ímpeto de ser “imagem em si”. Aqui e ali, fica a impressão de que algo está paralisado em uma concepção meramente agregadora de outros cinemas.
Bas Devos não disfarça suas referências, no caso de Gus Van Sant, tomadas até com algum embaraço. Pois se em Van Sant os personagens sempre assumem um pacto com os lugares que habitam, se relacionam com eles de acordo com seus dramas, o filme de Devos é algo intempestivo, posiciona os personagens e os objetos para que eles caibam na engenharia gráfica que pretende imprimir. Há evidentemente uma penetração elegante nesses espaços, o que mantém certa sutileza, algo notável para um longa de estreia, mas os personagens mesmo, e Jesse em particular, são algo coisificados para a composição dos cenários. Em alguns momentos são mesmo gratuitas a largueza temporal dos planos, dado que a substância de que são feitas as sensações (símbolos) não duram tanto, se esfarelam muito antes do corte.
Ora, o cinema de Gus Van Sant (o melhor Van Sant: aquele de Elefante, 2003, Paranoid Park, 2007, e Gerry, 2002) sempre foi aquele da convergência entre o sentimento verdadeiro e a imagem que o eterniza, pois se o plano dura o máximo que pode, não é por outro motivo senão pelo fato de que o sofrimento do personagem, também ele, está ali exposto em tempos alargados. O que ocorre com Violet é precisamente o inverso. O tempo é uma perseguição que resvala, o dilatamento do plano (e consequentemente do tempo de ação) não acompanha essas linhas, ao contrário, toma um caminho oposto.
É notável a busca de Devos em abrir espaço para a intimidade de Jesse ao mesmo tempo em que a câmera prefere o distanciamento, isto é, está próxima fisicamente mas não pretende tocar no âmago do personagem, mantém o foco em fissurar os tecidos, explorar as pessoas que o cercam, construir uma micro geografia dos corpos. Mas nenhuma imagem é suficiente em si, e é preciso, portanto, saber o momento certo (ou ao menos mais apropriado) de encerrá-la. Essa arritmia fica saliente no plano final, quando a câmera, após uma longa sequência pelas ruas do bairro, termina em meio a fumaça para afirmar o que já estava dito, sub-dito e redito nas imagens: que a dor, a falta do amigo, o “medo o mundo” e a estrutura social da vida de Jesse ainda são coisas que estão em pedaços, mas recompondo-se, tentando encontrar uma saída.
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