Crítica

Wes Craven, Meryl Streep e um filme sobre educação e música. Uma combinação mais do que estranha, mas que nem por isso deu menos certo. O drama baseado na vida real de uma mulher  que precisa reinventar sua vida após a separação e decide dar aulas de violino numa escola pública iria cair na pele da cantora Madonna. Por sorte, a popstar e o cineasta responsável tinham suas diferenças, o que fez a oscarizada atriz se tornar a grande escolha para Música do Coração. E, convenhamos, sem ela o filme seria mais um exemplar qualquer do gênero.

Para interpretar Roberta, Streep teve que fazer um intensivo do instrumento, já que ela não sabia tocar nada. O curso relâmpago em que ela ficava cinco horas diárias com o violino à mão garantiu não apenas uma excelência nas telas como o esforço também foi reconhecido com sua décima indicação ao Oscar. A pergunta que permanece até hoje é: há algo de tão extraordinário nesta atuação? Sim e não. Afinal, sabemos que a intérprete não entrega pouca coisa quando em cena, mas o papel não apresenta grandes inovações no quesito "filmes de professor".

É aquela velha trama básica: educadora chega na escola pública, os alunos (a maioria negros e latinos) a rejeitam inicialmente, depois pegam gosto pelo aprendizado e ela é ovacionada. A luta deles será para manter as aulas, já que, lá pela metade da fita, a escola decide cortar gastos. E, como bem sabemos, o primeiro lugar em que isto acontece é no setor cultural. Baseado numa história real com final feliz, foi uma forma de protestar na época para alertar o governo que as escolas estavam atentas para os cortes com aulas artísticas, especialmente as de música. A própria Meryl Streep concedeu várias entrevistas não para falar apenas sobre sua indicação ao prêmio da Academia, mas especialmente para manifestar seu desejo e preocupação com o tema.

Porém, não fosse esta situação peculiar da trama, o projeto seria apenas mais um sobre educação, seguindo os passos de Mentes Perigosas (1995), Sociedade dos Poetas Mortos (1989), entre tantos outros com a mesma cartilha. É uma fórmula que dificilmente tem como dar errado, pois apesar do clichê das situações, geralmente elas expressam a realidade da educação como um todo, não apenas nos EUA, mas no mundo ocidental.

Agora, se formos perguntar qual o papel de Wes Craven nisto tudo, fica difícil responder. O que se sabe é que ele aceitou fazer o projeto para poder continuar na produção de Pânico 3 (2000), num acordo com a Miramax. Se ele queria fazer o filme, são outros 500. Por ser uma trama totalmente fora de seus padrões, ele parece ter preferido ficar em terreno seguro e praticamente não vemos uma assinatura sua na decupagem.

Um grande acerto que talvez nem tinha sido decisão do próprio cineasta é não tratar o feel good movie como algo lacrimoso e dramático ao extremo. Já sabemos que a situação dos personagens no longa é delicada, não há porque inserir trilhas que induzam ao choro, o que realmente não acontece. A trama é linearmente contada da forma mais realista possível. É claro que há momentos como o sempre esperado "discurso do protagonista", mas nada que tire os méritos da produção. Um filme que não é inesquecível, mas gostoso de assistir, além de trazer uma bela mensagem educacional, por mais batida que ela possa ser.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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