Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos
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Mujeres al borde de un ataque de
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1988
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Espanha
Crítica
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Sinopse
Crítica
Pepa está desesperada para reconquistar o amor de Iván. Lucía está determinada a ter seu marido de volta. Marisa está preocupada com o crescente interesse do noivo pelos problemas enfrentados pela amante do pai dele. Paulina Morales, a famosa advogada feminista, está decidida a abandonar os tribunais para fugir com seu grande amor. Candela está à procura de um lugar para se esconder após descobrir que o namorado é, na verdade, um terrorista xiita. E Carlos está literalmente perdido no meio de todas elas, ao mesmo tempo seduzido por tamanho dinamismo e assustado por tanto poderio feminino. Pois elas são as Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, um grupo tão singular que só poderia ter surgido na mente do genial Pedro Almodóvar.
Carmen Maura foi a grande parceira de Almodóvar no início da carreira dele. Quando os dois faziam parte do movimento cultural La Movida, que tomou a Espanha no final dos anos 1970 e início dos 1980, ela já era uma estrela reconhecida, enquanto ele não passava de um novato. Mas a empatia entre os dois surgiu naturalmente, a ponto dele elegê-la como musa dos seus primeiros títulos, desde o experimental Folle... Folle... Fólleme Tim! (1978) e Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão (1980) até experiências mais ousadas, como a irresistível dona de casa de Que Fiz Eu Para Merecer Isto? (1984) ou a travesti de A Lei do Desejo (1987). Nenhuma destas oportunidades, no entanto, lhe possibilitaram tanto brilho quanto Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, filme construído para ela e elaborado, nos mínimos detalhes, para a consagração de ambos, visando um público muito maior, porém sem deixar de lado as características tão peculiares que tornaram o cineasta espanhol um dos maiores autores cinematográficos do seu tempo.
Pepa (Maura) acorda no susto, com uma mensagem de Iván na secretária eletrônica se despedindo. Ela precisa falar com ele, pedir desculpas, reavê-lo em seus braços. Corre ao trabalho que os dois dividem, à casa dele, à de sua ex-esposa, e parece nunca chegar à tempo de encontrá-lo. Mas ela não é a única com problemas. Lucía (Julieta Serrano, parceira de Almodóvar em cinco longas, entre eles Matador, 1986), após passar um tempo em um hospital psiquiátrico, descobre que fingir uma suposta sanidade é a melhor maneira de sair dali, e uma vez em liberdade decide: ou terá Iván – seu ex-marido – de volta, ou nada mais – nem ninguém – importa. Nem tão certo está o filho do casal, Carlos (Antonio Banderas, distante do tipo sedutor que o tornou popular), mais preocupado em descobrir a verdade sobre o pai que pouco conheceu do que em atender aos pedidos da noiva, Marisa (Rossy de Palma, talvez a mais almodovariana de todas as mulheres de Almodóvar, na primeira das sete parcerias que já estabeleceu com o cineasta – sendo a mais recente o ainda inédito Julieta, 2016).
Pepa ainda precisa lidar com os problemas de Candela (María Barranco, de Ata-me, 1989), sua melhor amiga, que prefere se matar a ter que enfrentar a polícia por causa dos problemas do namorado, e ainda enfrentar a reação inesperada de Paulina Morales (Kiti Mánver, de Abraços Partidos, 2009), a quem vai atrás de ajuda, sem suspeitar do envolvimento dela com o próprio amante. Almodóvar cria um mosaico de mulheres fortes, frágeis, poderosas, inseguras, arrependidas, assustadas, corajosas e literalmente malucas, abusando do humor negro e dos contrastes, tanto na estética quanto no perfil de seus personagens, fazendo deste o filme determinante para a construção de sua identidade enquanto cineasta. Os homens, quando aparecem, ou estão em fuga, como Iván (Fernando Guillén, de Tudo Sobre Minha Mãe, 1999), ou são quase femininos, como Banderas, ou são figuras tão estereotipadas e indefinidas que se apresentam mais como uma alegoria, como o taxista (Guillermo Montesinos, que chegou a ser indicado ao Goya por este trabalho).
Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos foi o filme responsável por tirar Pedro Almodóvar do restrito circuito interno de seu país e apresentá-lo ao mundo. Talvez lhe faltasse um maior refinamento para vencer uma das tantas indicações que recebeu como Melhor Filme Estrangeiro – no Oscar, no Globo de Ouro, no Bafta, no David di Donatello, na Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA – mas lhe valeu reconhecimentos importantes, como o leão de Melhor Roteiro no Festival de Veneza e o National Board of Review (nos EUA), além do próprio Goya – o Oscar espanhol – que lhe concedeu cinco estatuetas (Filme, Atriz, Atriz Coadjuvante, Roteiro Original e Montagem) mas lhe negou a de Direção, num total de 16 indicações! Seu cinema, no entanto, finalmente abriu-se para o mercado internacional, levando suas mulheres e suas cores a dimensões até então apenas sonhadas, sem pudores nem vergonhas. Uma vitória maior do que qualquer outra.
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