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Sinopse

Após anos com o mesmo namorado, Teresa o flagra a traindo com outra mulher. Traumatizada, ela resolve não mais se entregar a qualquer relacionamento e deseja levar uma vida leve e solta, com casos de uma noite só. Para tanto, ela precisa antes resolver suas questões em relação ao sexo, que a deixam bastante travada quando está a sós. Paralelamente, suas duas melhores amigas também enfrentam problemas sexuais: enquanto Maida não desperta atração no marido, após ter se tornado mãe, Consuelo precisa lidar com a ejaculação precoce crônica de seu futuro marido.

Crítica

É preciso ter muita paciência para assistir a Mujeres Arriba. Não apenas pela pobreza estética, que resulta em uma enxurrada de planos e contraplanos dispensáveis em uma direção de arte bem brega, mas também pelo tom histriônico e sempre exagerado adotado pelo diretor Andres Feddersen, nesta busca por uma comédia popular que dialogue com o público feminino de forma um tanto quanto atabalhoada.

De certa forma, há ecos de De Pernas pro Ar (2010) neste filme, no sentido da necessidade da descoberta pelo prazer feminino. Com muitas dificuldades em se sentir à vontade no sexo, seja por puritanismo ou mesmo por não encontrar prazer no ato, Teresa (Loretto Bernal, a menos pior do trio de protagonistas) flagra seu namorado de anos com outra mulher. A justificativa dele é uma pérola da canalhice masculina: "a culpa é sua, que é uma estátua na cama" aliado a "você praticamente me obrigou a transar com ela", com a cereja no bolo "mulheres sexy são para fazer sexo". Sim, isto ainda acontece em pleno século XXI.

Cansada de ser por todos considerada como "a santinha", Teresa se impõe uma transformação: a partir de agora nada de relacionamentos, o foco são aventuras de uma noite só. É curioso notar que, assim como no também recente - e também questionável - Te Quiero, Imbécil (2020), a resposta vem através da internet, via busca por alguma consultoria on-line. Mais que a utilidade (ou não) de tal serviço, trata-se de um modelo comportamental da sociedade contemporânea: a internet sempre tem resposta pra tudo, nem sempre a partir de fontes confiáveis. As tantas fake news que nos rondam que o digam.

Além da jornada de Teresa, Mujeres Arriba divide a atenção com os problemas também sexuais de outras duas mulheres: uma, casada e mãe, não consegue mais despertar atração no marido; outra, prestes a se casar, sofre com a ejaculação precoce do noivo. Todas são amigas e conversam sobre os problemas que enfrentam, sem qualquer pudor. O filme, inclusive, não se incomoda nem um pouco em ser grosseiro em muitos momentos, neste esforço em falar "abertamente" sobre sexo resguardando a nudez de todos, sem medo de abusar das cenas de "fast sex". Contradições desta comédia, que busca ser "ousada" apenas até certo ponto.

No mais, Mujeres Arriba segue à risca a fórmula de colocar suas personagens em situações desconfortáveis, por vezes constrangedoras ao espectador devido à precariedade do roteiro e de vários aspectos técnicos, em especial fotografia e cenografia. Com personagens estereotipadas ao extremo, o trio formado por Loretto Bernal, Natalia Valdebenito e Alison Mandel abusa dos exageros nas reações e emoções, estabelecendo personagens risíveis que sequer conseguem provocar alguma graça. Pior ainda são os coadjuvantes que as cercam, todos unidimensionais. O resultado é um filme extremamente cansativo que, com um terço de duração, já disse a que veio e se arrasta em repetições até completar seus longuíssimos 98 minutos. Para passar longe.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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